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Partituras de sufragista negra são descobertas e ganham vida no piano

Por Erick Matias
22 de dezembro de 2024

Os olhos da aluna sorriem enquanto o som do piano domina a sala e os seus sentidos. A professora toca, ensina, mas, neste lugar, também aprende. As notas da música Noturno saem dos dedos da pianista Renata Sica e se espalham pela sala de uma casa na cidade de Araras (SP). Maria José Febraro, de 75 anos, flutua no tempo ao saber que aquela obra foi composta por uma mulher negra como ela, com sonhos suados parecidos com os dela, com as conquistas de vez em quando e com os nãos de todos os dias. 

Maria José Febraro (direita), de 75 anos, encontrou em Almerinda semelhanças com sua própria história. Ao seu lado, a professora de piano Renata Sica. Foto: Renata Sica/Arquivo pessoal

A autora da música foi a sufragista, datilógrafa e sindicalista Almerinda Farias Gama (1899-1999). Almerinda foi uma trabalhadora alagoana histórica, invisibilizada no século 20 e uma figura até então desconhecida para a professora que tocava, para a aluna que ouvia e para o mundo. As duas sabem que estão diante de uma partitura histórica com as marcas amareladas do tempo.

A primeira a perceber que tinha uma relíquia diante de si foi a pesquisadora Cibele Tenório, doutoranda em história pela Universidade de Brasília (UnB) e jornalista da Rádio Nacional, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Foi Cibele quem encontrou as partituras arquivadas na Escola Nacional de Música, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ritmos

Cibele lançará, no ano que vem, uma biografia sobre Almerinda Farias (pela editora Todavia). Essa biografia nasceu de uma pesquisa de mestrado na UnB, sob orientação da professora Teresa Marques. No percurso para conhecer mais de Almerinda, Cibele descobriu que a sufragista tinha paixão pelo piano e havia criado músicas de variadas inspirações.

“Falamos de uma personagem que foi esquecida”, diz a pesquisadora. Cibele explica que Almerinda, em uma entrevista em 1984, recordou que a avó paterna ensinou francês, prendas domésticas e aula básica de piano. “Ela disse que nunca ingressou em um conservatório na infância. (…) Depois, quando era idosa e se aposentou como datilógrafa, voltou a se dedicar ao piano, o instrumento da infância”, afirma Cibele.

“Vai estragar os dedos”

A trajetória de Almerinda encanta e comove Maria José, que também conheceu o piano na infância. “Saber dessa história de luta, de uma mulher negra como eu, me deu mais vontade de aprender piano”, diz Maria José. A mulher que hoje ouve o instrumento, já escutou dos patrões da mãe, empregada doméstica em um sítio, que não deveria chegar perto do piano da casa. “Disseram que, se eu tocasse, poderia estragar meus dedos”, recorda. 

Hoje, os dedos e o coração da ex-lavradora e empregada doméstica encontram notas – as teclas brancas – e seus bemóis e sustenidos – as pretas – graças à vizinha musicista Renata Sica. “Eu fiquei tocada quando o Instituto do Piano Brasileiro divulgou a descoberta das partituras. Eu queria tocar. E foi como viajar no tempo”, conta a professora. 

Conhecendo Almerinda

A jornalista e pesquisadora Cibele Tenório foi a primeira a perceber a relíquia que tinha em mãos. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A divulgação da descoberta das partituras desconhecidas ocorreu a partir da descoberta de Cibele Tenório. Cibele se emocionou quando viu as partituras em suas mãos e depois, ao ouvir a aquele papel amarelado virando música na execução de Renata. “É como se tivesse encontrando com Almerinda”. Mais do que documentos, a música, na prática, faz reviver a personagem. Deixou de ser só história no livro e passou a ser vida entoada.

“A Almerinda tocava piano quando era criança. Também teve a vida toda nas teclas da máquina de escrever. É como se ela tivesse trocado as teclas. Inverteu, na infância, as teclas do piano para as da datilografia. Na velhice, voltou para as teclas em preto e branco”. A pesquisadora explica que Almerinda disse, aos 85 anos de idade, que havia, ao longo da vida, feito mais de 90 músicas. 

As canções foram para a Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Cibele localizou 29 obras e conseguiu acesso e liberação para que o material fosse divulgado. “A maioria tem versos e têm a letrinha dela. São de gêneros variados, como baião, valsa, samba…. Como ela afirmou que havia mais de 90 trabalhos, há ainda muito o que vasculhar”. 

As partituras não têm datas identificadas e tratam sobre amor, lendas amazônicas (Almerinda morou em Belém) e até canções de ninar. “Eu comecei primeiro conhecendo a figura pública, uma ativista pelo direito das mulheres. Depois, descobri as partituras”. Os papéis eram uma conquista, mas os sons levaram a descoberta a uma outra dimensão.

Divulgação

Almerinda Farias iniciou seus estudos no piano ainda criança. Foto: Almerinda Farias/Arquivo pessoal

Os sons se tornaram possíveis também porque a pesquisadora levou as partituras para o Instituto do Piano Brasileiro para que pudesse haver divulgação dos materiais. “A gente já publicou mais de 4 mil vídeos de partituras de compositores brasileiros”. Depois de veiculado na página do instituto, pianistas se interessaram em fazer que a música não ficasse somente em papéis antigos. “As músicas da Almerinda são simples. Podem ser tocadas em ambiente doméstico ou recitais”, diz o presidente do instituto, Alexandre Dias. Ele explica que as canções funcionam no piano solo, mas também podem e devem ser cantadas.

“O que mais me chamou atenção foi ver o ecletismo dessa intelectual. Mostra que mente vivaz e afiada que ela era”, diz o pianista. Para Cibele Tenório, a sensação de ouvir foi diferente. Mais do que método, papéis e teoria, há sentimentos que a pesquisadora não consegue explicar racionalmente.

“Meu encontro com a Almerinda também é proporcionado pela ancestralidade. Sou filha de uma mulher negra e a minha pesquisa é, de alguma maneira, um reencontro com a minha mãe [que faleceu quando a pesquisadora era adolescente]”. O resgate é para que as pessoas não sejam esquecidas. 

Revolucionária

Pesquisadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea, do Departamento de Letras da UFRJ, a professora Kátia Santos entende que histórias como a de Almerinda, trabalhadora negra que nasceu 11 anos após a abolição da escravatura, são situações atípicas e revolucionárias. Kátia avalia que, mesmo dentro das próprias famílias negras, a arte acaba não podendo ser a prioridade porque a sobrevivência sempre foi o mais importante. A conquista de Almerinda não foi simples. 

“As mulheres negras são as que mais sofrem a opressão […] Elas têm sempre que se juntar para tentar fazer valer um espaço para elas. Mas a base de tudo isso, para que essas pessoas tenham oportunidade de saber se têm essas aptidões, se querem fazer isso, é garantir a educação”, considera Kátia Santos. 

Para ela, a história de Almerinda mostra uma necessidade cidadã. “Ela queria exercer a arte também. Isso é muito importante”. Essa necessidade agora é da professora Renata, que resolveu tocar e gravar as músicas da sufragista. Uma necessidade também para a aluna de piano Maria José. “Desde criança, eu amei piano. Mas eu era muito pobre e não tinha possibilidade de estudar. Agora, eu consigo. Almerinda é mais uma inspiração para mim”. O silêncio foi desfeito. 


Fonte: Agência Brasil – Leia Mais em:
Jornal O Maringá

Tags: descobertasganhamnegraPartituraspianoSãosufragistavida

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