Relatório mantém indiciamento de nove investigados
Após quase dois anos e meio de investigações, a Polícia Federal (PF) finalizou, na última sexta-feira (1º), o inquérito sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.
“A investigação confirmou que os assassinatos ocorreram devido às atividades de fiscalização ambiental promovidas por Bruno Pereira na região, que atuava na preservação ambiental e na defesa dos direitos indígenas”, comunicou a PF em nota.
Bruno e Phillips foram mortos a tiros em 5 de junho de 2022, em Atalaia do Norte, no Amazonas, enquanto visitavam comunidades próximas à Terra Indígena Vale do Javari — a segunda maior área indígena do Brasil e lar da maior concentração de povos isolados do mundo.
No relatório final, a PF manteve o indiciamento de nove pessoas, encaminhando o caso ao Ministério Público Federal (MPF). Cabe ao MPF decidir se levará a denúncia adiante, com uma ação na Justiça Federal, ou se arquivará o caso em relação aos investigados para os quais considerar que faltam provas.
Entre os indiciados está Ruben Dario da Silva Villar, apontado como o mandante. A PF informou que os outros oito acusados participaram diretamente dos homicídios e da ocultação dos corpos das vítimas.
A defesa de Villar não foi encontrada para comentar. Ele já havia sido indiciado pelo mesmo motivo em janeiro de 2023, quando a PF anunciou ter identificado os principais envolvidos no crime. À época, o então superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Fontes, afirmou que Villar fornecia munição para Jefferson e Amarildo, usadas no caso, e que financiou a defesa inicial de Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, primeiro preso pelo crime.
Interesses Ameaçados
Dom Phillips, colaborador de veículos como The Guardian, The New York Times e Washington Post, foi ao Vale do Javari para entrevistar lideranças indígenas e ribeirinhas, material para um livro-reportagem sobre a Amazônia. Embora fluente em português e familiarizado com a região, Phillips viajava com Bruno Pereira, indigenista experiente, licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) desde fevereiro de 2020 por questões políticas. Bruno era consultor da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
Segundo a PF, Bruno e Phillips foram mortos devido ao trabalho de Pereira, que continuava desafiando grupos que ameaçam a segurança local, mesmo licenciado da Funai. Na Univaja, Bruno apoiava projetos para que comunidades tradicionais protegessem seus territórios e recursos naturais.
“A vítima atuava em defesa da preservação ambiental e na garantia dos direitos indígenas”, destacou a PF em nota, ressaltando que continuará monitorando os riscos para a população do Vale do Javari e investigando ameaças contra indígenas da região.