Sericicultores da região noroeste do estado fazem manifestação nesta segunda-feira, 23, contra a deriva de agrotóxicos. O encontro será na cidade de Nova Esperança e é organizado pela Associação dos Criadores do Bicho da Seda de Nova Esperança, Alto Paraná e Regiões (ACESP), Associação Comercial e Empresarial de Nova Esperança (ACINE) e Prefeitura de Nova Esperança.
Nas últimas duas Safras, mais de 500 famílias vulneráveis no campo abandonaram a atividade em virtude dos prejuízos decorrentes da deriva causada por aplicação irregular de agrotóxicos nas culturas vizinhas. Foram mais de mil denúncias de perda total por intoxicação formalizadas aos órgãos fiscalizadores. O Plano de Ações Integradas de Combate à Deriva de Agrotóxicos da SEAB está em vigor desde maio/2021, e mesmo assim os prejuízos para a economia do estado decorrente da perda dos Sericicultores acumulam mais de R$55 milhões (com base na quantidade de produção de casulos verdes que deixou de ser comercializada exclusivamente por causa da intoxicação). Tudo o que foi investido na propriedade para a criação do bicho da seda foi perdido.
Segundo Sandra Andrade Manieri, presidente da Associação de Produtores de Nova Esperança, considerada a capital da seda, em alguns casos a deriva foi tão avassaladora que matou não apenas as lagartas, mas também as amoreiras. “Tem produtor que só vai voltar a criação no ano que vem, porque precisa refazer o amoreiral, em outros casos o casulo não se desenvolveu, porque foi intoxicado, são dezenas de famílias sem produzir” – disse.
A criação do bicho da seda atende as principais estratégias do governo, sendo uma atividade produtiva sustentável, com garantia de compra do produto agrícola, alto valor bruto de produção, além de contribuir com o patrimônio público e gerar mais de 1.000 empregos diretos, além de desenvolver o comércio nos 221 municípios em que está presente no estado do Paraná, contendo ainda o êxodo rural e promovendo a sucessão familiar nas pequenas propriedades.
A produção de bicho-da-seda é considerada um agente de transformação econômica e social, principalmente nos municípios de baixo IDH do Paraná. Sendo ainda uma cultura de preservação ambiental, já que é 100% orgânica, tendo certificação internacional USDA/NOP, e sustentando mais de 1.500 famílias no campo. Atualmente, remunera mensalmente o valor de dez mil reais por alqueire de amoreira plantada, ao longo de 11 meses – durante a safra, tem um potencial de receita bruta de R$ 110.000,00 por família.
Na contramão desta situação, o mercado internacional consumidor dos fios de seda brasileiros aumentou significativamente a sua demanda, e a indústria nacional de fiação de seda conquistou maior valor agregado com o reconhecimento de melhor qualidade do mundo e maior sustentabilidade (conforme Relatório da Universidade de Cambridge, UK, em Impacts on Biodiversity at Hermès Silk Supply Chain). O que abre possibilidade para novas áreas de produção dentro da agricultura familiar, com garantia de compra da produção, em um dos melhores momentos de mercado.
A Indústria de Fiação de Seda Bratac tem hoje a capacidade anual de compra de mais de 9 mil toneladas de casulos verdes por ano, para produção de 1.400 toneladas de fios de seda para exportação e demais subprodutos da seda para os segmentos de moda, biomateriais, alimentos, medicina e cosmética. Diante da restrição de matéria-prima (casulos do bicho da seda) a perspectiva de exportação em 2023 será de meras 300 toneladas de fios de seda, com um impacto negativo de R$ 550 milhões em produto final não produzido, e mais de 1.300 postos de trabalho reduzidos pela ociosidade dentro das fábricas.