Nicanor, uma história de amor com Marialva

“Meu pai era um homem de visão. Quando só para conhecer, viu a terra roxa e o povo chegando, decidiu: este agora é o nosso lugar. Concordei com ele e comprei a venda, onde estou até agora, há quase 60 anos”. Nicanor Correia Franco, dono do Bar do Nicanor

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O capixaba Nicanor Correia Franco era um jovem de 23 anos, casado de pouco, quando esteve em Marialva pela primeira vez, gostou do lugar e fez o primeiro investimento de sua vida: comprou uma venda na beira da estrada que ligava o pequeno povoado ao patrimônio Santa Fé de Marialva.

Era uma daquelas vendas de esquina das estradas, toda de madeira, piso de cimento com vermelhão, um balcão de madeira bruta e outro de fórmica, balança Filizolla vermelha, uma armação de ferro para os rolos de papel de pão de diferentes tamanhos e os lugares para os lampeões de querosene.

A venda do Nicanor era uma das mais importantes de Marialva, com freguesia das redondezas todos os dias e o povo que vinha dos sítios nos finais de semana, muitos voltando da missa, do cinema no Cine Marialva, da praça, da paquera.

Era um tempo de fartura. O pessoal vinha dos sítios com bolos de dinheiro, escolhia as compras no balcão. Arroz, feijão, sal, tudo era em saco, pesado na Filizolla. Tinha também, em caixas de madeira, carne seca, bacalhau e manjuba. Em litros de vidro ou garrafões levavam o querosene e o óleo de cozinha, que chegavam à venda em tambores de 200 litros.

Isso foi há quase 60 anos. O tempo foi passando, os sítios que tinham populosas colônias esvaziaram, pouca gente passava pela estrada, Nicanor e a mulher tiveram sete filhos, a estrada para Santa Fé de Marialva ganhou nome de Avenida Formosa e a cidade, que antes estava a uma certa distância, encostou, passou e a venda ficou quase no centro de Marialva.

Com o tempo, deixou de ser venda, virou Bar do Nicanor, o piso de vermelhão foi substituído por cerâmica e ex-estrada poeirenta virou avenida asfaltada, os clientes antigos mudaram, morreram ou estão tão idosos que não frequentam mais o bar, embora alguns de vez em quando aparecem para jogar conversa fora, geralmente sobre os velhos tempos.

Um que sempre aparece é o Beto, um contador que conhece Nicanor desde que era menino e ia levar e trazer os papéis do estabelecimentos para o escritório.
Beto cresceu, a idade chegou para ele também, mas continua frequentando o Nicanor para jogar conversa fora.

Os balcões de madeira e fórmica continuam os mesmos, mas envelhecidos. Hoje, com 88 anos e sentindo o peso da idade, o velho comerciante lembra com saudade do tempo em que virou dono de venda sem ter a menor experiência no ramo. Lá no Espírito Santo sua família era da zona rural e veio para a zona rural do Paraná na época em que o cafezal tomava conta de tudo. A família morou algum tempo em Quinta do Sol, depois resolveu cruzar o Rio Ivaí para morar em Marialva, que estava começando sua vida de cidade.

Ele amou Marialva à primeira vista e diz que foi o melhor que fez. Tudo mudou, menos o amor que ele tem pela cidade que adotou e que o recebeu tão bem.

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