A estruturação de uma rede colaborativa baseada em um sistema de previsão climática mais assertivo para a região noroeste do Paraná, nos moldes do que é praticado nos Estados Unidos e Europa, deu mais um passo na tarde de quarta-feira, 5.
A iniciativa da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, lançada no ano passado e que já conta com a adesão de 60 municípios integrantes de três associações regionais (Amunpar, Amerios e Amenorte), foi apresentada em Maringá, na sede da Amusep (Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense), a gestores públicos dos 30 municípios que integram a entidade. O evento contou com a participação de dirigentes e técnicos da cooperativa e da companhia suíça Meteoblue, líder global em gestão de dados meteorológicos de alta precisão.
Ao abrir a reunião, a presidente da Amusep e prefeita de Astorga, Suzi Pucillo (PP), destacou que contar com uma rede assim “seria, pela sua importância estratégica, a realização de um sonho para os municípios”, enquanto o vice-presidente e prefeito de Maringá, Silvio Barros (PP), frisou que “os acordos internacionais estabelecidos para o enfrentamento das mudanças climáticas não acontecem sem a ativa participação dos municípios”. Ele exemplificou que a gestão da energia, dos resíduos e da poluição atmosférica, entre outros itens, depende do envolvimento direto dessas lideranças. “Temos muito interesse em conhecer e participar dessa rede”, resumiu.
Previsibilidade
Luiz Lourenço, presidente do conselho de administração da Cocamar, disse que ao propor a criação de uma rede colaborativa, o objetivo é buscar previsibilidade. “Estamos pensando não só na agricultura, mas na comunidade em geral, pois esse é um projeto que beneficia a todos”. Para ele, o ideal é que o sistema não se restrinja aos municípios que já aderiram ou estão entrando, mas chegue a todo o estado.
A Meteoblue
Pela Meteoblue, participaram o seu cofundador Karl Gutbrod, o líder global Dmitry Koprovich e o diretor da companhia no Brasil, Waldomiro Lima.
Em sua apresentação, Karl Gutbrod citou que a empresa é provadora de dados meteorológicos de precisão para todos os lugares do planeta, baseada em multimodelos. Fundada em 2006, mantém operações em mais de 50 países e está sediada na Basileia, onde medições climáticas são feitas há cerca de 200 anos. Pelo sistema nowcasting, que envolve radar e satélite global, com a permanente inclusão de medições, as atualizações sobre o clima são feitas a cada 5 minutos. Nas suas análises de risco climático, a companhia gera relatórios, tabelas e dados, sendo que no âmbito urbano, a modelagem é feita em espaços de 10x10m, com o monitoramento por meio de sensores IoT, detectando ilhas de calor, inundação e outros eventos.
“Tem havido muitos avanços tecnológicos nas previsões climáticas, sendo possível alertar para a ocorrência de grandes desastres”, comentou Karl, ao lembrar que o principal desafio “está em colocar as previsões em funcionamento com ações à frente, como prevenção e evacuações. É preciso engrenar toda uma cadeia para obter os melhores resultados”.
Para ele, o Brasil tem tido menos empenho na área meteorológica devido ao clima que, nas últimas décadas, foi relativamente favorável, propício para a agricultura e de certa forma moderado em relação a secas e chuvas. Essa situação, contudo, tem mudado bastante nos últimos dez anos e há um trabalho de aprimoramento a fazer para melhorar a meteorologia na agricultura e nas áreas de emergência.
Presença na região
Ele comentou que a Meteoblue está intensificando atividades na região de Maringá “por ser muito avançada, com agricultura de alto nível, bem como sua infraestrutura e contando com cooperativas e prefeituras capazes de colocar as tecnologias em funcionamento. Esperamos que seja um modelo para outras regiões”.
Karl disse que a rede colaborativa em desenvolvimento na região “é uma iniciativa pioneira, que reúne os setores tecnológico, cooperativo e público em uma proposta em comum, que pode beneficiar a agricultura, as cidades, equipes de emergência e mesmo transportes e energia, que dependem da meteorologia”.
Diferenciais
Ele destacou ainda que a plataforma proposta vai servir de base para todos esses segmentos, beneficiando a população. Seus diferenciais são a melhor previsão meteorológica, uma medição mais precisa do que aconteceu e um alerta mais rápido e compreensível. Os dados são enviados para um sistema de alta capacidade de computação, gerando previsões aprimoradas e análises mais detalhadas. “Teremos uma visão de curto prazo de eventos extremos, saberemos mais cedo do que se consegue hoje com os recursos atuais, com uma compreensão muito boa para onde se move a chuva, por exemplo, o que permite uma reação mais rápida dos setores afetados”.
Oportunidade
Karl destacou que o projeto “é uma grande oportunidade”, lembrando que enquanto os Estados Unidos contam com cerca de 20 mil meteorologistas, o Brasil não tem mais do que dois mil. Mesmo assim, os brasileiros produzem mais soja, por exemplo, do que seus colegas norte-americanos. “Imagina se houver, no Brasil, pelo menos o dobro do número de meteorologistas, quanto isto poderia acrescentar à produtividade da agricultura”.
Cada município que for integrar a rede vai instalar de duas a quatro estações em prédios públicos. Os locais serão definidos após estudo do terreno. A meta, em uma área de 16,5 mil quilômetros quadrados, é reunir 200 pontos de captação de informações. Desse total, 35 são de responsabilidade da Cocamar.
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