Dagmar Tavares, primeira professora do prefeito de Sarandi, é homenageada no Dia do Professor

Dagmar Tavares

Dagmar tinha apenas 16 anos quando recebeu a missão de alfabetizar crianças da zona rural, entre elas Walter Volpato Foto: ASCOM Sarandi/@arthurhosner1

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Homenagear publicamente sua primeira professora, Dagmar Tavares, foi a forma que o prefeito Walter Volpato encontrou para homenagear todos os mestres no Dia dos Professores

Dagmar era ainda uma menina quando foi escolhida para dar aulas na escolinha rural da Estrada Aquidabã e ensinar o bê-a-bá a meninos e meninas quase da idade dela que viviam nas colônias de casas dos sítios e fazendas de café de Marialva nas décadas de 1940 e 1950 e precisavam ser alfabetizadas. Hoje, aos 77 anos, a professorinha lembra aqueles meninos e meninas que aprenderam as primeiras letras com ela e muitos viraram escriturários, contadores, professores, bioquímicos, comerciantes e até médico.

Na última sexta-feira, 8, ela visitou um deles, era um menininho louro do cabelo todo espalhado, que ia às aulas calçando alpercatas, ou Sete Vidas ou ainda Alpargatas Roda, calção de fardo de açúcar e um embornal com um caderno de Linguagem, um de continhas e outro de caligrafia, lápis e borracha. Aquele aluninho, o Walter, manteve contato com a professorinha a vida inteira, cresceu, estudou mais, montou um pequeno comércio, virou empresário e hoje é o prefeito de Sarandi.

Dagmar Volpato Tavares foi ao Gabinete do prefeito de Sarandi a convite, pois seu antigo aluno, Walter Volpato, queria homenageá-la e, por meio dela, homenagear todos os professores de Sarandi pelo Dia dos Professores, comemorado neste 15 de outubro.

 

A vida nos cafezais

 

Em meados do século passado, o norte/noroeste do Paraná era uma floresta sendo aberta para a plantação de café. As cidades estavam começando, como era o caso de Mandaguari, Marialva, Maringá, Paranavaí.  Entre essas pequenas comunidades, onde estavam os comércios, as máquinas e armazéns de café estavam as grandes e pequenas fazendas, cada uma com dezenas de casas, as chamadas colônias, onde moravam as famílias dos trabalhadores que cuidavam e colhiam o café. Em todas as casas, muitos meninos e meninas.

Marialva estava nascendo. Era um pequeno agrupamento de casas, vendas que tinham de pano para roupa a arroz, feijão e carne seca. O grosso da população morava nas fazendas e na beira das estradas que levavam à cidade existiam as escolinhas de uma sala só, com um poço e um espaço para os meninos jogar bola antes da aula. Estudar ali, só durante o dia, pois nesta região nem se sabia o que era luz elétrica.

 

Escolhida por saber ler

 

Mas, geralmente as escolas não tinham professores. As prefeituras e subprefeituras não conseguiam gente com formação que aceitasse viajar diariamente às escolinhas para lecionar. Aí as comunidades improvisavam.

No começo de 1961, Dagmar tinha 16 anos, todos vividos na fazenda, e três anos de estudo em escolas de Marialva, quando viu uma reunião dos homens e mulheres das fazendas próximas para acharem um jeito de dar escolas às crianças que estavam crescendo sem aulas.

“Minha filha sabe ler, escreve bem e tem facilidade para lidar com crianças”, falou o pai dela. Na hora, todos decidiram que ela seria a professora e eles, pais e mães, fariam uma ‘vaquinha’ todos os meses para que a professorinha tivesse um salário.

Quando a menina percebeu, lá estava ela diante do quadro negro, às voltas com giz, apagador, livro de chamada. A sua frente, cerca de 50 meninos e meninas, a maioria seus conhecidos, muitos da mesma fazenda e até seus parentes.

“Eram umas cinquenta crianças, alguns para estudar o 1° ano, outros já estavam no segundo e tinha até gente do 3°”, recorda hoje a aposentada Dagmar Tavares. “As crianças do primeiro ano ficavam em uma fila, cada ano em uma fila diferente e eu tinha que ter matéria para cada ano e passar para os alunos sem deixar a classe virar bagunça”.

 

A funcionária pública da fazenda

 

Era muita responsabilidade para uma menina de 16 anos que nunca tinha trabalhado, mas ela deu conta e logo seu sucesso chegou ao conhecimento da prefeitura de Marialva, que mandou contratá-la como professora. No outro ano o pagamento já vinha do governo do Estado. E assim, nenhuma criança daquelas paragens entre Marialva e Maringá ficou sem aprender o bê-a-bá, escrever, somar, diminuir, multiplicar, dividir, um pouco da história do Brasil, um pouco sobre Geografia, enfim, aprenderam a ler o mundo e ter uma base para continuar os estudos.

O tempo passou, a professorinha casou com Nelson Tavares há quase 60 anos, criou filhos e hoje tem neto com mais de 30 anos. Ao lado da Estrada Aquidabã cresceu Sarandi e os alunos cresceram e se espalharam pelo mundo, todos a partir de uma base dada por Dagmar. A Escola Isolada Santo Antonio envelheceu e foi reconstruída em outra fazenda, mas continua à beira da estrada.

 

Gratidão e emoção

 

“Eu convidei você ao meu Gabinete para ver por um pouco como é governar uma cidade deste porte, depois porque quero mostrar minha gratidão pelos ensinamentos que me deu 60 anos atrás e que nortearam toda minha vida”, disse o prefeito Walter Volpato, de Sarandi, ao receber sua primeira professora.

Boa parte dos estudantes da primeira sala de aula de Dagmar hoje vive em outras cidades e outros Estados, mas Walter Volpato nunca saiu do lugar em que nasceu e cresceu e hoje é o prefeito de Sarandi.

Segundo ele, ao homenagear Dagmar Tavares, ele reconhece a importância de todos os professores, que enfrentam dificuldades para dar a seus alunos os ensinamentos que servirão de base para a vida inteira.

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