Virada Cultural em Sarandi comemorou Dia da Consciência Negra com música, capoeira e ideias

Apresentação do casal de rappers Mano Shock & Tati Araujo (Crédito: Cristiano Martinez)

O feriado da Consciência Negra foi comemorado em Sarandi na manhã desta quarta-feira, 20 de novembro, com a 2ª edição da Virada Cultural – Igualdade Racial. Trata-se de evento organizado pelo grupo em torno da Show Black, uma barbearia sarandiense que é casa de cultura. Por meio dela, estabelece contato entre artistas da cena hip hop.

Aliás, o evento de 2024 contou com a união de forças, de projetos existentes na cidade da Região Metropolitana de Maringá. “Para trazer essa representatividade que a gente entende que falta”, explica Dom Preto, um dos organizadores da Virada. Ele contou também com apoio da Sec. Mun. de Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (Sejuv).

“Foi uma manhã impactante e vai ser marcante daqui para frente no município”, diz Dom, destacando que é um trabalho total da população do começo até o fim. “Lembrando que é mais de 50% da população negra nessa cidade [Sarandi]. Ter um momento de privilégio é muito especial”, acrescentando que se trabalha para tornar a Virada Cultural um projeto da cidade.

Na programação desta quarta, a Associação Cultural e Desportiva Ginga e Mandinga – Mestre Rock apresentou uma roda de capoeira; os Djs Onix e CL foram do início ao fim; o microfone foi utilizado pelos Mcs para dar a letra e a rima; o advogado Eduardo do Carmo palestrou sobre o Dia da Consciência Negra; o projeto social Batucada de Primeira deu o tom na percussão; e um desfile da Beleza Negra, comandado por Maria Julião, encerrou as atividades da manhã, por volta de meio-dia e meia.

No caso dos capoeiristas, Mestre Rock explicou que o trabalho é feito em prol da comunidade, com interação entre brancos e pretos, todos com direitos iguais. “Essa roda [de capoeira] foi em prol do feriado da Consciência Negra”, disse, em entrevista à reportagem.

Rock recordou que ele trabalha com a capoeira há mais de 30 anos em Sarandi e isso gerou parcerias com Diego Garcia, o Dom Preto, a Batucada de Primeira e a Beleza Negra. Assim, surgiu a oportunidade de participar da Virada, reunindo 30 capoeiristas. Mas o projeto atende de 90 a 100 crianças. Ensinando capoeira sem fins lucrativos. É um trabalho voluntário, sem cobrar um centavo dos alunos.

Segundo ele, essa prática envolve disciplina, educação e esporte. E tem a questão musical, com instrumentos do naipe de berimbaus e atabaques, além do canto ritmado durante a realização da roda de capoeira. “O conjunto da bateria e a música, a criança consegue desenvolver 100% na roda”.

Roda de capoeira durante a Virada Cultural (Crédito: Cristiano Martinez)

Palestra
Em sua palestra, o advogado sarandiense Eduardo do Carmo abordou a evolução da Consciência Negra, na questão do feriado nacional. Além do Estatuto da Igualdade Racial que, segundo ele, foi um marco na sociedade brasileira.

“Precisamos trazer para a sociedade, o pessoal aqui de Sarandi, esse conhecimento. O que significa esse feriado, esse marco histórico, na luta pela promoção da igualdade racial no nosso Brasil, nosso Estado, na nossa cidade de Sarandi”, diz, em entrevista à reportagem, apontando a importância de não tolerar qualquer tipo de discriminação.

Atuando em áreas como o processo penal, direito de família e direito administrativo, Carmo já combateu situações de racismo na região de Maringá. “Infelizmente, nós temos bastante casos. O que é triste que a maioria, muitas vezes, nem chega às autoridades policiais”, exemplificando que ocorrem situações de racismo no ambiente escolar.

Palestrante e advogado Eduardo do Carmo (Crédito: Cristiano Martinez)

Música
Entre as atrações musicais, Fernandinho MC veio de Maringá para apresentar seu material autoral durante a Virada Cultural; e o casal de rappers Mano Shock & Tati Araujo deu a letra, adiantando uma das músicas que vai sair no inédito álbum da dupla.

Beleza Negra
O encerramento do evento ocorreu com o Desfile da Beleza Negra, quando o público pôde interagir, sob comando de Maria Julião.

Ela é da Paróquia Nossa Senhora da Esperança e participa do Conselho Municipal da Igualdade Racial. Inclusive, é nessa Paróquia que o Desfile é feito há 18 anos, com incentivo do Padre Décio. Segundo Julião, o concurso valoriza o povo negro. “E é um reconhecimento para Sarandi”, citando que o projeto começou a participar do desfile da cidade.

Atual campeã da Beleza Negra de Sarandi, Ângela Maria Gonçalves Nunes (Crédito: Cristiano Martinez)

Na Virada, contou com a participação especial da atual campeã da Beleza Negra de Sarandi, que é Ângela Maria Gonçalves Nunes. “Ela foi incentivada por mim para desfilar”, recorda Maria Julião, dizendo que Ângela não acreditava na vitória, mas venceu em novembro de 2023. “Eu não esperava. A Maria Julião me convidou só para fazer o desfile. Para mim, seria um ‘desfilinho de nada’. Não estava esperando que ia ganhar. E estamos aqui até hoje”.

A próxima edição do concurso será em 2025. Segundo Julião, a concorrência costuma ser forte, com avaliação do júri para o 1º, 2º e 3º lugares, nas categorias feminino e masculino. A abrangência é nas cidades que têm a Pastoral Afro-Brasileira.

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