Técnica descoberta por pesquisadores da Universidade de São Paulo e de Harvard, nos Estados Unidos, pode agilizar em até seis vezes o retorno da espécie mais agressiva do câncer de mama. O tratamento engloba uma fase antes da quimioterapia com o uso de droga detectada, a qual enfraquece as células tumorais. O trabalho foi publicado na Science Signaling, revista científica distribuída pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS).
“Nós levantamos 192 compostos, que estavam em uma biblioteca de compostos, de drogas, do laboratório. A gente já sabia onde esses compostos iam operar no metabolismo da célula. Testamos para verificar qual deles atingia a célula especificamente do triplo-negativo”, afirmou Vinícius Guimarães Ferreira, pós-doutorando do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) e um dos autores da pesquisa. Triplo-negativo é o nome dado ao tipo mais rígido de câncer de mama.
Na universidade norte-americana, Ferreira foi inspecionado pelo professor Anthony Letai, especialista na análise de mecanismos que levam as células tumorais à morte. “Ele trabalha com a seguinte visão: “eu não quero necessariamente encontrar um composto que sozinho mata a célula, mas eu quero buscar um composto que deixa a célula mais próxima de morrer.”
Segundo os pesquisadores, ao deixar o tratamento contra o tumor mais eficaz, diminui o tempo que o paciente estará submetido aos efeitos colaterais dos medicamentos tóxicos usados na quimioterapia. “É como se fosse um barranco, você empurra a célula perto do barranco para entrar o quimioterápico e dar aquele último empurrão.”
Molécula ideal
A primeira parte da pesquisa observou os compostos à disposição para encontrar a molécula ideal. “No final, a gente encontrou alguns que eram os mais promissores e fomos para o modelo animal”, disse o pesquisador. As drogas que deixaram os tumores mais vulneráveis foram testadas em camundongos com câncer de mama.
O teste durou 21 dias e revelou resultados animadores: utilizando somente quimioterápico, existindo regressão de 10%. No tratamento combinado, o tumor reduziu 60%. “A terapia foi 500% mais eficaz.”
Os pesquisadores salientam que de acordo com dados da Sociedade Americana de Câncer, o câncer de mama triplo-negativo é encarregado por volta de 10% a 15% dos cânceres de mama e é mais habitual em mulheres com menos de 40 anos. É um tipo de câncer que cresce mais rapidamente, tendo possibilidades de tratamento limitado.
No Brasil, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o país deve ter cerca de 66 mil novos casos de câncer de mama por ano entre 2020 e 2022.