Um estudo divulgado por pesquisadores chineses revelou que uma terceira dose da CoronaVac, imunizante em combate ao coronavírus feito pela farmacêutica Sinovac, estimula a quantia de anticorpos fabricados pelo organismo.
Os dados não querem dizer, especialmente, que países que aplicam este imunizante, como o Brasil, devem dar uma dose adicional de agora em diante. Mais pesquisas ainda são essenciais para estabelecer a necessidade do reforço.
Ontem, a secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite, desconsiderou que seja feita a aplicação de terceira dose de qualquer que seja a vacina no país.
Rosana ressaltou que a pasta já debate o cronograma vacinal do próximo ano, o que será a causa de um fórum entre especialistas brasileiros e a comunidade internacional.
A pesquisa foi feita com 540 adultos saudáveis de 18 a 59 anos. Parte deles recebeu uma terceira dose da vacina e outra parte não. Os cientistas fizeram exames laboratoriais para identificar o nível de anticorpos produzidos pelos participantes da pesquisa. Os dados publicados no último domingo (25) são preliminares e ainda não foram conferidos por outros cientistas.
Segundo a pesquisa, o nível de anticorpos neutralizantes cai depois de seis meses da aplicação da segunda dose. Quando os participantes recebem uma terceira dose, aproximadamente seis meses depois da segunda, esses anticorpos voltam a crescer de três a cinco vezes. Isso quer dizer que conforme os pesquisadores o esquema de imunização de duas doses de Coronavac gerou “boa memória imunológica”.
“Embora o título de anticorpos neutralizantes tenha caído para níveis baixos seis meses após a segunda dose, uma terceira dose foi altamente eficaz em relembrar uma resposta imune específica para o Sars-CoV-2, levando a um salto significativo nos níveis de anticorpos”, disseram os pesquisadores, ligados ao centro de controle de doenças da província de Jiangsu, à Sinovac e em outras instituições chinesas.
Estudos
Estudos com a terceira dose já foram realizados por pesquisadores encarregados por outras vacinas, como o da AstraZeneca. No caso da pesquisa chinesa, o protocolo dos ensaios foi modificado em junho do ano passado para analisar as vantagens de uma terceira dose do imunizante.
Mesmo com o aumento da quantia de anticorpos gerados pela terceira dose, os cientistas avaliam na pesquisa que a decisão de oferecer a dose adicional deve levar em consideração muitos outros motivos, como a eficiência das vacinas, a condição epidemiológica e a oferta dos imunizantes.
“No curto a médio prazo, garantir que mais pessoas completem o esquema atual de duas doses de Coronavac deve ser a prioridade”, ressaltaram os pesquisadores.
No Brasil, a secretária Rosana Leite declarou que a cobertura de regiões de fronteira é a maior preocupação no momento, para impedir o progresso da variante delta.
A queda no nível de anticorpos neutralizantes com o passar do tempo, analisada pelo estudo chinês, não significa que a população imunizada no início do ano com a Coronavac está desprotegida, justificou Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. Para o especialista, é natural que o nível de anticorpos diminua no decorrer do tempo.
Os anticorpos são somente um dos elementos de defesa do organismo e, no caso do coronavírus, ainda não está claro o dever que eles têm na proteção da população. A memória das células e outros indicadores podem executar uma função relevante na proteção. Os pesquisadores ainda não são capazes de dizer quantos e quais marcadores garantem que uma pessoa está ou não protegida de se infectar com a covid-19.
Para Kfouri, a pesquisa também não deve ser vista como um sinal para mudar a técnicas de vacinação no Brasil e aplicar uma terceira dose da CoronaVac. Estudos no mundo real sobre infectados e hospitalizados depois da imunização, são os melhores indicativos da eficácia das vacinas e de uma eventual necessidade de oferecer doses de reforço para a população.