Aos 28 anos Helena, advogada recém-formada, queria ser mãe. Antes, tinha ainda muitas coisas pra realizar. Conseguir um bom emprego, trocar de carro, estudar um pouco mais. Mestrado, doutorado… Conquistar um pouco mais de segurança material. A jornada foi longa. Quando se deu conta, havia se passado 12 anos. Na parede da casa bonita estavam todos os diplomas e títulos. Mas o sonho da maternidade se tornou uma batalha desgastante. Depois de inúmeras tentativas frustradas enterrou, de vez, o sonho.
O arquétipo que conhecemos da morte é sombrio e assustador. Ela nunca é bem-vinda. No fundo, ninguém quer morrer. Nem mesmo os atormentados por pensamentos e sentimentos suicidas. Não é a morte em si que se planeja, mas o fim da angústia, da sensação de vazio e do não pertencimento.
A morte é sorrateira. Alimenta-se das trevas e vive à espreita. E nunca foi temida! Tirar a própria vida causa dor e um impacto enorme na família e nos amigos. Mas nem sempre a morte vem de forma abrupta. A morte pode chegar aos poucos, de forma silenciosa, sem flores, sem velório ou despedidas.
Morre todo dia um pouco quem insiste em trabalhar em algo que não gosta, apenas movido pelo salário no fim do mês. Trabalhar sem descanso com ambição desmedida, impondo-se metas inalcançáveis também é uma morte em conta gotas.
Se arrastar há anos, sufocado pelas obrigações de um relacionamento sem amor, sem respeito, por pura conveniência ou por falta de uma atitude corajosa é também viver no limiar da morte.
Morre todo dia um pouco quem sonha mas não tem coragem de se arriscar. Por medo de errar, insiste no que é seguro, ainda que seja frustrante.
Todo mundo sabe que o cigarro pode matar e beber sem moderação pode estragar a saúde. Mas já vi gente morrer de desgosto, de infarto fulminante, sem nunca fumar ou beber, por ter a confiança traída por quem mais amava e confiava.
A morte lenta é fácil. Basta empurrar a vida com a barriga. Engavetar os sonhos. Adiar as decisões para um outro dia. A alma é pacienciosa, pode esperar. E assim, você vai gastando seus créditos de vida até a fatura chegar.
Para muitos, ela chega alta e tardia. O “não” almoço com os pais porque eles já partiram. O “não” parquinho com os filhos porque já estão na faculdade. A solidão, porque até então a vida a dois nem parecia assim tão importante. A morte é astuta. Ela pode se vestir de “vida” enquanto te arrasta!
A alma é paciente, mas envia sinais. Sutilmente, ela nos cutuca quando a ‘morte’ está rondando. O remédio para evitar uma vida pela metade, é ter alegria no coração, agradecer as coisas simples da vida, buscar o equilíbrio entre ‘ser’ e ‘ter´. Para isso é preciso estar atentos aos apelos sutis da alma.