Após 52 anos de ausência, a Unidos de Padre Miguel retorna ao Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro em 2025. Vencedora da Série Ouro de 2024, a escola apresenta o enredo Egbé Iyá Nassô, que retrata a trajetória do Terreiro Casa Branca do Engenho Velho, considerado o primeiro terreiro de candomblé do Brasil.
O enredo: História, resistência e ancestralidade
O enredo, desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato, narra a saga de Iyá Nassô, uma mulher africana da corte de Oyó que, trazida ao Brasil como escravizada, fundou o Terreiro Casa Branca em Salvador. Essa casa é considerada um marco para o candomblé no Brasil e foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1984.
“Contamos a saga de uma mulher africana que resistiu à escravidão e preservou sua religiosidade, inaugurando o primeiro terreiro de candomblé no país”, explica Louzada. O enredo também destaca as ialorixás Iyá Adetá e Iyá Akalá, que colaboraram na fundação do terreiro.
Para Lucas Milato, a ligação entre a história do candomblé e a Unidos de Padre Miguel é evidente. Assim como o Terreiro Casa Branca, a escola é uma comunidade vibrante, ou egbé, no idioma iorubá. Além disso, a força feminina é um ponto central: “A Casa Branca foi conduzida por mulheres, e a Unidos de Padre Miguel também se sustenta por pilares femininos.”
Resgatando a memória africana
O enredo da escola busca resgatar histórias apagadas pela colonização e valorizar a cultura africana no Brasil. Segundo Louzada, o desfile será uma celebração da ancestralidade africana e da resistência cultural em um país cuja população tem 55,51% de pessoas negras, segundo o Censo de 2022 do IBGE.
Da Série Ouro ao Grupo Especial: o desafio
A Unidos de Padre Miguel é uma escola tradicional com forte torcida. Apesar de ter batido na trave em diversas ocasiões na Série Ouro, a vitória em 2024 marca um novo capítulo. “A escola é muito esperada pelo público, e agora, no Grupo Especial, queremos disputar de igual para igual com as grandes escolas”, afirma Louzada.
Lucas Milato compartilha a mesma ambição: “Não queremos brigar para não descer. Nosso objetivo é conquistar um lugar no G6 e, quem sabe, sermos campeões. Estamos fazendo um desfile à altura dessa conquista.”
Um presente para a Vila Vintém
O retorno ao Grupo Especial é mais do que uma vitória para a agremiação; é um presente para a comunidade da Vila Vintém, que sempre apoiou a escola. “Esse desfile é para eles, que estiveram conosco todos esses anos”, finaliza Lucas.
Com fé, história e uma narrativa potente, a Unidos de Padre Miguel promete emocionar a Sapucaí em 2025, celebrando a força feminina e a ancestralidade africana que moldam nossa cultura.