Um imunizante em formato de spray nasal em combate ao coronavírus está sendo fabricado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em etapa de estudos, a nova vacina será de baixo custo e poderá proteger contra variantes e bloquear o novo vírus ainda no nariz. A esperança é que ela esteja à disposição até o final do ano que vem.
“Você já começa a induzir resposta no epitélio nasal e induzir a produção de um anticorpo que é muito importante nas mucosas, que são as IgAs [Imunoglobulina A] secretórias”, afirmou coordenador do estudo, Jorge Elias Kalil Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe do Laboratório de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas.
Além de modernizar no modo de inoculação do vírus, com aplicação pelo nariz e não por via intramuscular, a vacina também se distingue no antígeno. “Em vez de usarmos a Spike do vírus de Wuhan, nós vamos utilizar só a RBD [domínio receptor obrigatório, pela sigla em inglês] das quatro variantes de preocupação”, ressaltou Kalil Filho.
Segundo a Fiocruz, a proteína Spike é relacionada à capacidade de entrada do patógeno nas células humanas e é um dos principais focos dos anticorpos neutralizantes desenvolvidos pelo organismo para bloquear o vírus.
O pesquisador esclarece ainda que o antígeno vai conter pedaços de proteínas que incentivem a resposta celular mais prolongada do que aquela mediada pelos anticorpos neutralizantes. “Nós estudamos 220 pessoas que tiveram a doença, estudamos também por informática todo o genoma do vírus e selecionamos fragmentos que teoricamente induzem uma boa resposta celular.”
A vacina deve englobar fragmentos que são capazes de matar a célula, caso ela seja infectada. “Se o vírus entrar na célula, a única coisa que você pode fazer é usar as células chamadas CD8 citotóxicas, que matam a célula infectada”, disse Kalil Filho.
O spray deve conter os nomeados linfócitos T CD8+ citotóxicos, que matam células doentes, e os linfócitos T CD4+, que ajudam na produção de anticorpos e nas respostas citotóxicas.
Outra novidade do produto é a concepção de um tipo de nanopartícula que adota à mucosa do nariz. “A mucosa tem muitos cílios que não deixam nada aderir, mas desenvolvemos um jeito de colocar uma formulação específica em que a gente induz uma resposta de mucosa importante”, expressa o médico.
A respeito do valor, Kalil Filho diz que deve ficar em torno de US$ 5,porém, ainda é preciso outras verificações relacionadas ao rendimento. “Nós temos alguns laboratórios que produzem proteínas recombinantes, mas ainda está muito no início, então estamos tratando com as empresas farmacêuticas pra ver se a gente acha alguma que consiga produzir com boa quantidade.”
O imunizante spray nasal pode atuar como um reforço para as doses já presentes e aplicadas por via intramuscular. “Provavelmente, quando o spray estiver pronto, boa parte da população mundial vai estar vacinada. Eu acredito que ele vai ser, sobretudo, como uma dose de reforço.”