O STF voltou da hibernação de dois meses com discurso do ministro Fux. Uma solenidade irrelevante para o trabalhador, desnecessária para os trabalhos da corte, mas que foi bancada com nosso dinheiro.
Fux, que preside o tribunal, depois da introdução narcisista, politizou o andamento da corte jogando a culpa da polarização na sociedade e no atual governo.
É de se esperar que o STF mantenha o mesmo posicionamento na volta dos trabalhos, e é cada vez mais transparente quando demonstra seu posicionamento como partido de oposição ao presidente.
O que de fato surpreende é o discurso revolucionário que floresce entre linhas, a justificação de atos autoritários de pares, como o ministro Alexandre de Moraes, suprimindo fatos visíveis, condicionando tais atrocidades a resultados analisados por eles mesmos, sempre como se tudo fosse para nosso bem, para a ordem e democracia.
Para o ministro, ações do STF salvaram vidas e empregos. Devemos, portanto, esquecer que o próprio supremo permitiu ações de prefeitos e governadores que fecharam comércio, escolas e eventos. É o discurso, temos que confiar.
Vale lembrar que embora a igualdade seja retratada como fim em tais pronunciamentos, há uma diferença imensurável entre o locutor e nós mortais e, literalmente, essa diferença é suprema.
Enquanto um trabalhador precisa de meio ano de labor para pagar apenas os impostos, ministros ficam quase meio ano descansando, somando-se férias, feriados e recessos. Enquanto o mortal se alimenta do possível, deuses comem o que podem, ipsis litteris, são noventa mil reais por mês em média cada um em “vale alimentação”. Enquanto o cidadão sobrevive, ministros gozam a vida. Isso ultrapassa valores, os direitos e garantias também elevam o patamar aumentando a diferença entre senhores e Excelências.
Como um jogo de cartas marcadas, as decisões do STF servem como base para decisões do próprio STF, justificando interpretações de um mundo retratado por pares, permitindo decisões não inconstitucionais, já que são guardiões da Constituição Federal, mas decisões EXTRAconstitucionais, por serem “editores do Brasil”.
A visão é tão superior, acima das nuvens, que sequer podem ver o que acontece abaixo da sola se seus sapatos. De acordo com FUX, “vivemos um Brasil democrático, vivemos um estado de direito, no qual podemos expressar nossas divergências livremente, sem medo de censuras ou retaliações”.
Não há como fugir do meme gerado, da ironia que a realidade proporciona, o humor negro que veste a camisa do politicamente correto. Já são inúmeros casos de decisões da corte que contradizem essa afirmação. Desde tortura até desmonetização de canais a favor do governo. Ou seja, existe um lado, enquanto advogados não tem acesso sequer aos processos, impossibilitando no mínimo a defesa, do outro, advogados que fazem ministros do supremo ir a lágrimas conseguem anulação de penas, de réus condenados, traficantes ou corruptos, não importa, com direito a retomada dos direitos políticos. Enfim, o supremo só é supremo para alguns, para outros, bem, os outros só vem a sola do sapato mesmo