Nome histórico do humor gráfico no Brasil, o cartunista e chargista mineiro Henrique de Souza Filho, o Henfil, nasceu em 5 de fevereiro de 1944, em Ribeirão das Neves. Ou seja, nesta segunda-feira (5), ele teria completado 80 anos caso fosse vivo.
O artista morreu no Rio de Janeiro em 4 de janeiro de 1988, vítima da Aids, aos 43 anos. Ele contraiu o vírus HIV quando adulto, em uma das transfusões que realizava com frequência, já que era hemofílico – assim como seus irmãos, o sociólogo Betinho e o músico Chico Mário.
Henfil viveu a infância e juventude na periferia de Belo Horizonte, onde fez o primário e o supletivo noturno. Cursou sociologia na Universidade Federal de Minas Gerais, mas abandonou o curso meses depois.
Ele trabalhou como embalador de queijos. Depois, foi contínuo em uma agência de publicidade, onde aprendeu a técnica de ilustrador e a produção de histórias em quadrinhos. Seu reconhecimento profissional veio em 1964, ao trabalhar na revista Alterosa. Também colaborou com o jornal Diário de Minas, onde produziu caricaturas políticas.
Henfil é o criador de tirinhas famosas nos anos 1970 e 1980, como a Graúna, o Fradim Cumprido e o Fradim Baixim. Engajado na vida política e social do país, seus traços criticavam a ditadura militar. Ele trabalhou para o semanário O Pasquim, cuja linha editorial era contrária ao regime da época.
Mais tarde, participou de movimentos importantes, como a mobilização pela anistia a presos e exilados políticos e as Diretas Já!, cujo bordão é inclusive de sua autoria.
Aliás, uma versão diz que Henfil precisava de uma frase de efeito para encerrar sua entrevista com o senador Teotônio Vilela para “O Pasquim”. Então, não se fez de rogado e criou o diálogo que nunca existiu. “E aí, Teotônio, diretas quando?”. “Diretas já!”, o político respondia na imaginação do cartunista e nas páginas que logo chegaram às bancas de jornais, provocando um verdadeiro bafafá.
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Documentários
Com direção de Angela Zoé (que também assina o roteiro ao lado de Gabriela Javier), o documentário “Henfil” (2017) vai revelar narrativas paralelas que apresentam a vida do cartunista e ativista, Henrique de Souza. A narrativa explora um movimento de descoberta do personagem junto aos jovens a partir de uma turma de animadores que tenta trazer o trabalho de Henfil para os dias atuais.
Juntam-se às descobertas feitas, a partir dos depoimentos de amigos, revelações sobre a maneira como o artista usou seus desenhos como um aparato para “driblar” a censura política e também como um recurso para lidar com sua saúde frágil, causada pela hemofilia, e expor sua inquietação criativa.
O filme de Zoé está disponível para aluguel ou compra online no Google Play.
Já “Cartas da Mãe” (28 min) é um documentário mais antigo, de 2000. Trata-se de média-metragem de Fernando Kinas e Marina Willer sobre a correspondência de Henfil com dona Maria durante 15 anos (1970-85), sobretudo por meio das páginas da revista “IstoÉ”. Foram selecionadas 13 das 450 cartas.
O filme cria um diálogo entre o Brasil de Henfil e o país dos anos de 1990. As cartas, lidas em “off” pelo ator Antônio Abujamra, colocam em perspectiva os dois momentos históricos. “Cartas da Mãe” resgata fotos e personagens marcantes do acervo do cartunista, como o cangaceiro Zeferino, o bode Orelana, a Graúna e os dois Fradim.
Uma cópia do filme circula em canais do YouTube.
E uma curiosidade, segundo o jornal Folha de S.Paulo: Henfil gostava tanto de futebol que criou, involuntariamente, o símbolo do Flamengo, o urubu, graças à charge que publicou no dia seguinte à vitória do time sobre o rival Botafogo, em 1969. A inspiração surgiu quando a ave-mascote pousou no gramado e teria dado sorte ao Flamengo.