O centenário de nascimento do paranaense Dalton Trevisan (1925-2024), considerado um dos principais escritores da moderna literatura brasileira, será comemorado em junho de 2025 com nova coleção de livros a cargo da editora Todavia. O conjunto todo é composto por 37 obras que ganharão novas edições ao longo dos anos.
Com formato especial e novo projeto gráfico, os livros trazem, ao fim de cada volume, a seção “Canteiro de obras”, com material inédito com trechos de diários, cartas para amigos, bilhetes, desenhos.
E ainda: a antologia “Educação sentimental do Vampiro”, organizada por Caetano W. Galindo e Felipe Hirsch, contém contos de todos os livros e traça um panorama da obra deste que é um dos maiores contistas brasileiros.
Assim, o primeiro lote da série a chegar aos leitores é formado por “O vampiro de Curitiba”, “Desgracida”, “Ah, é?”, “Pão e sangue”, “Chorinho brejeiro” e “Beijo na nuca”. Todos com lançamento previsto para 9 de junho; já estão em pré-venda.
O primeiro talvez seja o mais conhecido da imensa obra de Dalton. Trata-se de um romance sempre cobrado em vestibulares e nas aulas de português. Publicado originalmente em 1965, consolidou o autor curitibano como um dos principais nomes da literatura brasileira, ao lado de escritores como Machado de Assis e Graciliano Ramos. “Deliciosamente subversivo, narra as aventuras do anti-herói Nelsinho, que perambula por Curitiba em busca de aventuras sexuais”, na descrição da Todavia.
Dividida em duas partes, “Desgracida” traz uma faceta de Dalton menos conhecida de seus fãs. Se na primeira encontramos as ministórias, na segunda ela traz um conjunto de cartas revelando um leitor crítico, mordaz e divertido.
Por sua vez, “Ah, é?” marca uma revolução formal do conto. Em brevíssimas histórias repletas de humor e violência, sexo e filosofia, Dalton faz da síntese a força universal de sua escrita.
Nascidas nas páginas policiais, nos apartamentos empoeirados e nos becos perdidos de Curitiba, as histórias de “Pão e sangue” são marcadas pela violência. É desse universo soturno de facadas e traições que Dalton irá extrair algumas de suas histórias mais poéticas – algumas fragmentárias e reorganizadas em haicais -, onde os cantos escuros da alma humana podem revelar também alguma medida de graça e redenção.
Em “Chorinho brejeiro”, volume de contos repleto de Joãos e Marias, personagens que vão aparecer nos livros seguintes, Dalton parte de temas comuns à sua obra para, com ironia e uma prosa cada vez mais depurada, explorar os recônditos do cotidiano e da intimidade, em retratos reveladores e sagazes da vida na cidade – como quem espia através de uma fechadura. Conforme se acumulam, as histórias aos poucos revelam um olhar amplo, que enxerga o que há de alto e baixo dessas vidas e o que há de comum no desejo, no amor e na morte.
E “Beijo na nuca”, último livro publicado por Dalton em vida, mostra um autor inquieto com sua obra até o fim. A coletânea reúne crônicas de viagens e contos das décadas de 1940 e 50 publicados em livro pela primeira vez. Se a prosa segue a um só tempo arrebatadora e lírica, os temas acompanham de perto as mudanças sociais e culturais do país. Atento às novas gírias e comportamentos, dialogando com autores que vão de Katherine Mansfield a Noel Rosa, Dalton tece nestas 48 histórias um panorama ora amargo, ora tocante da vida moderna.
Coletânea
O livro “Educação sentimental do Vampiro: Antologia” é um passeio pela obra de Dalton, por seus temas e obsessões, e um vislumbre das mudanças de estilo e ponto de vista do autor ao longo dos anos. Trata-se de porta de entrada para a obra daltoniana.
“Estão aqui a cidade, o sexo, a violência, a graça e o absurdo da vida. Os amantes desesperados e os crimes de sangue. Todavia, engana-se quem imagina encontrar uma escrita única, uniforme — pelo contrário, a cada conto podemos enxergar um autor inquieto, sempre em busca de algo novo. Este livro é a porta de entrada perfeita para quem quer conhecer — ou reencontrar — seus livros”, diz a editora.
Autor
Dalton Trevisan (1925-2024) é um dos mais celebrados escritores brasileiros, vencedor do Prêmio Camões e três vezes do prêmio Oceanos. Em sua obra, explora, com ironia e precisão, as aventuras cotidianas das pessoas comuns, conforme vagam asfixiadas pelo desejo, se encontrando e se perdendo, em pequenos e comoventes retratos.
Todavia
Nos últimos anos, a Todavia tem se destacado por edições bem cuidadas, curadoria exemplar em seu naipe de autores/autoras e coleções de relevância para as letras.
Essa editora publicou obras da lavra de figuras fundamentais como Antonio Candido, Graciliano Ramos e Machado de Assis. São obras derivadas de todo um trabalho de seleção de material, preparação e organização. Merecem figurar em qualquer estante de leitores e leitoras.
Sem contar que a casa editorial promove anualmente o Prêmio Todavia de Não Ficção. Em 2025, as inscrições se encerram em 30 de abril, sob o tema “Biografia: outras vidas brasileiras”. O objetivo “é justamente ajudar a trazer à luz tais percursos biográficos. Um convite para revisitarmos ou conhecermos outras vidas brasileiras — negras, indígenas, pardas, queer, silenciadas — largamente excluídas da história oficial. Outras vidas brasileiras”.
Para mais informações sobre a premiação, acesse: https://todavialivros.com.br/premio