Para além da distribuição de recursos (quando há) ou fechamento de contratos, os prêmios literários jogam luz sobre obras que poderiam passar em branco no infinito mercado editorial. Afinal, são tantas publicações, editoras e autores que muitos livros bons e interessantes podem ficar “perdidos”. Ainda mais via casas pequenas e alternativas. E também no mundo universitário.
Nesse sentido, o Jabuti Acadêmico, criado em 2024, veio para preencher uma lacuna. Ele é fruto do tradicionalíssimo Prêmio Jabuti. “O Prêmio Jabuti Acadêmico fundamenta-se na crucial importância da produção acadêmica no progresso cultural e científico de uma nação. As obras originadas desses campos desempenham um papel fundamental no avanço do conhecimento, no aprimoramento das práticas profissionais e no estímulo à inovação. No entanto, é frequente que essas valiosas contribuições passem despercebidas em razão da ausência de um reconhecimento específico”, diz a organização.
Pode-se dizer que está cumprindo seu propósito. Basta uma rápida olhada nos finalistas da primeira edição. Quem imaginaria uma obra sobre o protagonismo negro nos gibis da Turma da Mônica? Pois está lá, com “Os Donos da Rua: representatividade racial e as transformações do protagonismo negro no universo Turma da Mônica”, livro de Rodrigo Sérgio Ferreira de Paiva na categoria Comunicação e Informação.
Publicado pela editora paranaense Appris, o material busca compreender, dentro de um contexto mercadológico, como se deu a transição da presença negra nos produtos editoriais da Mauricio de Sousa Produções de uma posição secundária para protagonista.
Por falar no Estado, o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Fernando Cerisara Gil concorre em Letras, Linguística e Estudos Literários com “Pelo prisma rural: ensaios de Literatura Brasileira” (ed. Unicamp). Trata-se de livro que busca repensar e desentranhar ângulos e problemas diferentes que envolvem uma das categorias centrais de compreensão da literatura brasileira: o regionalismo. O autor se debruça sobre Afonso Arinos a Itamar Vieira Junior, passando por Graciliano Ramos, Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
Em Matemática, Probabilidade e Estatística, o professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Marcelo Escudeiro Hernandes figura com “Um primeiro contato com bases de Gröbner e suas aplicações” (ed. SBM). É um tema mais espinhoso para quem não é dessa área mais especializada de estudos.
O professor explica que o livro aborda um método matemático (as Bases de Gröbner) que possibilita resolver vários problemas algébricos envolvendo polinômios e ilustra como essa ferramenta pode ser utilizada para abordar problemas. “Serve para a modelagem do controle de tráfego ferroviário, coloração de mapas com certo número de cores, modelagem e completamento de sudoku, verificação de teoremas em Geometria Euclidiana, validação de construções realizadas com origami, entre outros”, exemplificou, via ASC/UEM.
Filosofia e Letras
O Jabuti Acadêmico também é espaço para pesos-pesados do pensamento brasileiro. Caso de Marilena Chauí, finalista na categoria Filosofia com “Introdução à história da filosofia: Volume 3: a Patrística – Introdução ao nascimento da filosofia cristã” (ed. Companhia das Letras). “Uma das mais renomadas intelectuais brasileiras retoma um projeto de ampla envergadura, iniciado há quase três décadas: refazer o percurso do pensamento ocidental, dos pré-socráticos aos autores modernos”, diz a editora.
Professora titular da Universidade de São Paulo (USP), onde leciona desde 1967, Chauí é especialista em história da filosofia moderna e filosofia política. É doutora honoris causa pela Universidade de Paris e pela Universidade de Córdoba. Já protagonizou evento na UEM nos anos de 1990, quando pisou em solo maringaense e palestrou no Restaurante Universitário (RU); claro, fora do horário de refeições.
Outro “tubarão” da intelligentsia nacional é Silviano Santiago. Ele concorre com “Grafias de vida — a morte” (ed. Companhia das Letras) em Letras, Linguística e Estudos Literários. “Nos ensaios aqui reunidos, encontramos, entre outros temas, a crítica ao cânone único e ocidentalizante, a defesa de uma escrita selvagem e libertária, a problematização da domesticação, conceito caro ao autor, além de reflexões sobre o espaço e tempo do fazer artístico”, diz a sinopse.
Referência incontornável no campo dos estudos literários, Silviano Santiago possui produção extensa, entre romances, contos e ensaios. O premiado autor e influente crítico foi pioneiro ao propor uma abordagem histórica de nossa literatura que mobilizasse ideias das teorias pós-coloniais.