Depois de publicar nove livros em 2023, a Tinta-da-China Brasil prepara algumas novidades para o ano de 2024.
A ideia dessa editora é construir um catálogo forte em história e literatura, com desvios pelo humor, quadrinhos, jornalismo, entre outros. Para os 60 anos do Golpe de 64, será lançado “Despotismo tropical”, reunião de crônicas que o historiador Luiz Felipe de Alencastro publicou nos anos 1970 e 80 no Le Monde Diplomatique, dando notícias para os europeus e fazendo denúncias sobre a ditadura e a redemocratização brasileira. Os textos eram assinados por um curioso pseudônimo: Julia Juruna. A organização é do historiador Rodrigo Bonciani.
Outro grande historiador, o lisboeta Rui Tavares, lança pela Tinta-da-China Brasil o “Agora, agora e mais agora”, versão literária de seu podcast de sucesso, produzido pelo jornal PÚBLICO. Já conhece o genial “Pequeno livro do Grande Terremoto”? Ao lado dos livros de Fernando Rosas, André Belo, A.H. Oliveira Marques e de outros autores já contratados, as obras de Alencastro e Tavares estão entre as lacunas da historiografia luso-brasileira que a Tinta-da-China preenche nas livrarias brasileiras.
A casa também vai contar a história da língua portuguesa com prosa do linguista Fernando Venâncio, que com erudição e graça nos mostra que o idioma de Camões não é exatamente “latim em pó” como se diz por aí, mas chegou de Roma de forma oblíqua, a partir de uma língua de pastores de ovelhas, o galego. Assim nasceu uma língua: sobre as origens do português sai no primeiro semestre, com prefácio do linguista Marcos Bagno, especialmente escrito para esta edição.
Mas não só as palavras têm história: os números também. Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) publica no primeiro semestre, pela Tinta-da-China Brasil, “Histórias da matemática”, volume de crônicas sobre figuras eminentes, problemas importantes e curiosidades desse fascinante universo.
Trajetória editorial
A Tinta-da-China Brasil é uma editora de livros independente, sediada em São Paulo, controlada pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão da cultura do livro.
Essa casa editorial é considerada uma das mais bonitas, inventivas e importantes de Portugal – e certamente do mundo também. Desde 2005, publica com independência e alta qualidade editorial o melhor da literatura clássica e contemporânea, além de livros de história, jornalismo, humor, literatura de viagem, ensaios, fotografia, poesia, a edição em língua portuguesa da mais importante revista literária da era moderna — a britânica Granta — e a mais bonita coleção de Fernando Pessoa em qualquer língua.
Em 2012, essa excelência editorial aportou no Rio de Janeiro, com a criação da Tinta-da-China Brasil, pela criadora da matriz em Portugal, Bárbara Bulhosa, e amigos. Depois da publicação de 47 títulos essenciais, divertidos e imprescindíveis, em 2022 os fundadores decidiram deixar de operar no Brasil — mas não fechar as portas. Em janeiro, a Tinta-da-China Brasil passou a ser controlada pela Associação Quatro Cinco Um, que reativou a editora fazendo reimpressões, lançamentos e vendas de livros já produzidos.
A Tinta-da-China Brasil passa a ser o selo editorial da Quatro Cinco Um, a exemplo de outras editoras de livros ligadas a revistas de crítica, como a New York Review of Books e o Suplemento Pernambuco, que tem um selo pela editora estatal Cepe. A editora deixa de existir em modelo empresarial e passa para o modelo sem fins lucrativos que viabiliza a publicação da revista até hoje.