“Senhoras e senhores! Os lutadores Rocky e Apollo chegaram ao fim do 15º assalto e não houve vencedor. A luta terminou empatada!”, diz o mestre de cerimônia.
Era desta maneira que a luta entre Rocky Balboa e Apollo Creed chegara ao final em cima de um ringue de box, após confronto equilibrado em que o obscuro boxer da classe trabalhadora da Filadélfia surpreendera a todos ao combater de igual para igual com o campeão dos pesos pesados.
Estas são as cenas finais do longa-metragem “Rock, um lutador” (1976), sucesso de bilheteria dirigido por John G. Avildsen, com Sylvester Stallone (autor do roteiro) no papel de Rocky e Carl Weathers vivendo o algoz Apollo. Infelizmente, Weathers morreu aos 76 anos de idade na última quinta-feira, 1º de fevereiro.
No filme de 1976 da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), um fato curioso é que a luta entre os dois ficou no “empate”. Porém, isto somente ocorre na antiga versão dublada, que tem a voz de André Filho (1946-1997) como Stallone e passou à exaustão na TV Globo. Nesta fita, que está disponível no YouTube, o mestre de cerimônias anuncia que não houve vencedor, e sim um empate.
Estranhamente, na tela o lutador Apollo “Doutrinador” (apelido na versão em português) comemora com seu staff e Rocky, com o rosto desfigurado, grita pela amada Adrian Balboa (Talia Shire), que sobe ao ringue.
Não se sabe o motivo, mas a dublagem brasileira da época preferiu pelo resultado igual entre os dois lutadores. Talvez para não decepcionar o público, que esperava a superação do protagonista? Pela narrativa do longa-metragem, soa inverossímil acreditar que um boxer sem preparo adequado e qualificação poderia simplesmente empatar ou vencer o poderoso campeão.
Na verdade, o que o filme destaca é a capacidade de superar as limitações. Mesmo sem ter o treino, dinheiro e status de Creed, o azarão Balboa lutou no mesmo nível. Vendeu caro a derrota.
Tanto é verdade que, no filme seguinte (“Rocky II – A Revanche”, de 1979), o “Doutrinador” precisa lutar novamente contra o lutador da Filadélfia para provar seu valor. A vitória de antes soara pouco convincente aos olhos de imprensa e público.
Doutrinador
Já o codinome Apollo – “O Doutrinador” é a versão encontrada pela dublagem para o original Apollo “The Master of Disaster” (“O Mestre do Desastre”, em tradução livre).
A ideia da primeira seria porque o personagem doutrina seus adversários no ringue. Já a outra é por causa de sua agilidade com as pernas, o que o permite “dançar” no ringue e confundir o adversário com sua grande velocidade.
Franquia
O personagem Apollo Creed ainda voltaria em mais três sequências da franquia: “Rocky II” (1979), “Rocky III – O Desafio Supremo” (1982) e “Rocky IV” (1985). Neste aqui (alerta de spoiler!), o “Doutrinador”, agora ex-campeão dos pesos pesados, morre em combate, ao ser espancado até a morte pelo lutador russo Ivan Drago (Dolph Lundgren).
Sem Apollo Creed, a série para o cinema ainda teve as produções estreladas pelo personagem principal em “Rocky V” (1990), um abacaxi daqueles!; e o elogiado “Rocky Balboa” (2006), em que o “Garanhão Italiano”, viúvo de Adrian, tenta acertar as pontas soltas de sua vida.
Com Rocky Balboa definitivamente aposentado das lutas, seguiu-se uma nova franquia com filmes derivados do universo do personagem, os spin-offs: “Creed” (2015), “Creed II” (2018) e “Creed III” (2023). A série é estrelada por Michael B. Jordan como o boxeador Donnie Creed, tendo Rocky como seu treinador nos dois primeiros filmes.
O Rocky real
A inspiração para Stallone criar o personagem Rocky Balboa partiu de um caso real: o pugilista peso-pesado Chuck Wepner, cujo cartel é modesto: 51 lutas, 35 vitórias (17 por nocaute), 14 derrotas e dois empates.
Mas, em 24 de março de 1975 no Richfield Coliseum, na cidade homônima do estado de Ohio, o pugilista nascido em Nova York, então com 36 anos, desafiou o mítico Muhammad Ali pelo título mundial dos pesos pesados. Em seu currículo, Chuck Wepner já havia enfrentado George Foreman e Sonny Liston; perdeu para ambos.
Por incrível que pareça, “The Bleeder” aguentou a pancadaria diante de Ali por quase 15 rounds e só sucumbiu quando faltavam 19 segundos para o fim da luta. Wepner chegou a derrubar seu adversário no nono round, mas após o dono do cinturão pisar em seu pé.
Da arquibancada, Sylvester Stallone acompanhou o combate e se impressionou com o lutador desafiante. Dali, inspirou-se a escrever a história de Rocky Balboa.
A trajetória de Wepner é contada em “Chuck” (2017), filme que recebeu o nome de “Punhos de sangue” no Brasil.
Oscar de 1977
Desbancando produções como “Taxi Driver” (de Martin Scorsese) e “Todos os homens do presidente” (de Alan J. Pakula), “Rocky, um lutador” faturou a categoria de Melhor Filme no Oscar de 1977, durante a 49ª cerimônia de entrega dos Academy Awards pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
A produção com roteiro de Stallone ainda ganhou em Melhor Direção (John G. Avildsen) e Melhor Montagem. E concorreu também à estatueta dourada em Melhor Roteiro Original, perdendo para “Network – Rede de Intrigas” (dir. de Sidney Lumet); Melhor Ator com Stallone, mas quem levou foi Peter Finch (“Network”); Melhor Atriz, com Talia Shire, perdendo para Faye Dunaway (“Network”); Melhor Ator Coadjuvante, com Burgess Meredith e Burt Young, ficando o prêmio para Jason Robards (“Todos os homens do presidente”); Melhor Som (foi para “Todos os homens do presidente”); e Melhor Canção Original, com o hit “Gonna Fly Now”, que foi para “Evergreen” (tema de “Nasce uma estrela”).
Streaming
No streaming, é possível conferir a saga do personagem Rocky Balboa em serviços por assinatura. “Rocky”, “Rocky II”, “Rocky III”, “Rocky IV”, “Rocky V” e “Rocky Balboa” estão disponíveis no Amazon Prime Video e na Apple TV+.
Os spin-offs “Creed: O Legado de Rocky”, “Creed II” e “Creed III” também estão nas mesmas plataformas.