‘O meu negócio é livro’, afirma a produtora editorial Angela Ramalho

Angela Ramalho, trabalhando em sua editora (Crédito: Cristiano Martinez)

Prestes a completar nove anos neste mês de setembro, a editora AR Publisher é um projeto independente em Maringá, comandado pela escritora e pedagoga aposentada Angela Ramalho, que empresta seu nome para as iniciais da casa. A profissional acompanha todo o processo do livro, do início ao fim, cuidando das etapas.

Em conversa com a reportagem, Ramalho conta que o projeto começou a ser pensado três anos antes de se aposentar como professora do Estado e da Prefeitura, quando passou a se informar da papelada referente à abertura de uma editora. Mas já estava envolvida há um bom tempo com a literatura e a participação em edições da Bienal do Livro de São Paulo.

Nessas viagens à Capital paulista, ela passou a fazer contato com ilustradores e escritores. “Fiz muito conhecimento”, destacando que, em sua página no Facebook, tem mais de mil escritores do Brasil inteiro. Entre idas e vindas, juntou cerca de 500 cartões de visita. Aos poucos, foi entrando no mercado editorial, conhecendo o processo de produção, para direcionar a seus livros. E divulgando seu trabalho também via redes sociais. Tudo por conta própria.

Com a experiência, passou a fazer a edição de livros de outras pessoas. A estreia foi com uma prima e comadre, que era filha de pioneiros em Maringá. No lançamento, 700 pessoas lotaram o auditório Hélio Moreira, na Cidade Canção. “Ficou muito bonito”, diz Ramalho, acrescentando que o livro despertou atenção de muita gente.

Depois, começou a preparar obras de pessoas de Minas Gerais, Campinas e Sorocaba (SP). Com a passagem do tempo, autores do Ceará, São Paulo (Capital e Interior), Paraíba, Maringá e região, Curitiba e Foz do Iguaçu procuraram seus serviços editoriais. Até setembro de 2023, quando a AR Publisher completou oito anos de atividades, havia trabalhos feitos para escritores e escritoras de pelo menos 15 Estados.

“É minha paixão, é meu meio de vida. Não vou dizer que ganha dinheiro. Não ganha, não”, explica a produtora, dizendo que sua principal renda vem da aposentadoria, que muitas vezes precisa ser investida na editora. Ela conta que não pode reclamar da carreira no magistério, mas agora faz o que gosta. “O meu negócio é livro”.

E tem seu reconhecimento, claro. Por exemplo, a edição de “A mosca no cérebro”, de Jeferson Nunes, ganhou como melhor impressão do Paraná. “Não fui nem eu que foi premiada, nem o Jeferson, nem nada… mas eu fiquei muito feliz. O livro ficou muito bonito. A produção ficou um espetáculo”, recorda Ramalho.

Ramalho conta que o projeto começou a ser pensado três anos antes de se aposentar (Crédito: Cristiano Martinez)

Produção de livros
Um dos grandes projetos da editora maringaense é a Coleção Desenvolvimento Humano, que já lançou quase 30 volumes e, ao final, o projeto vai chegar a 50 números. É o resultado de mais de 10 anos de estudos e pesquisas do psicólogo e professor universitário Luiz Bonassi, de Foz do Iguaçu.

Outro dado importante é o recorde de publicação de livros da AR Publisher, alcançado em 2019 com o lançamento de 75 edições. “Foi um movimento bacana”, avalia Angela Ramalho. Já em 2023, foram 33 livros.

Em 2024, a expectativa é de volume bem maior, na comparação com o ano passado. Somente do edital da Secretaria de Estado da Cultura (Seec), que selecionou apenas 12 editoras paranaenses, são 13 livros em vista. Além da coleção de Bonassi e publicações diversas, entre material impresso e e-books.

Ao longo de sua trajetória, a casa comandada por Ramalho beira a marca de 400 títulos lançados, já contando a projeção deste ano de 2024. O gênero é variado e diversificado, indo do infantil ao conhecimento especializado, com predominância da literatura.

Flim
Durante a 11ª edição da Festa Literária Internacional de Maringá (Flim), com atividades no Teatro Calil Haddad, a editora, que tem estande no evento, apresentará na sexta-feira, 13, às 16h, “Nosso livro de Trovas”, edição comemorativa dos 57 anos da União Brasileira de Trovadores (UBT) – Seção de Maringá, com a participação dos atuais trovadores.

Sem contar também o lançamento de “Reminiscências”, do jornalista Joel Júnior Cavalcante, dentro da programação de Flim. Sábado, 14, às 14h.

Projetos
A casa maringaense mantém mais um projeto em atividade: o Prêmio VIP de Literatura, destinado a divulgar o autor iniciante, dando-lhe a oportunidade da primeira publicação. Sem custos, nos gêneros do conto e da poesia. Dessa premiação, já foram revelados autores como Airton Souza, ganhador do Prêmio Sesc 2023 e que este ano está na programação da Flim.

Ao mesmo tempo, o resgate de obras e figuras históricas. Por exemplo, “Kenji Ueta: lente, olho e coração” (2018), da historiadora Loide Caetano. Conta a história do fotógrafo pioneiro de Maringá, cuja história se confunde com o surgimento e desenvolvimento dessa cidade.

Segunda edição de histórico livro de AA de Assis é projeto da AR Publisher (Crédito: Reprodução)

Troféu
Classificado por Angela Ramalho como “troféu”, a segunda edição de “Robson”, de AA de Assis, é um trabalho de resgate do primeiro livro editado em Maringá em 1959. Ao final da obra, uma atualização de dados possibilita ao leitor enveredar pelos caminhos literários traçados pelo autor, após esta edição histórica. Assis inicia sua carreira literária com a publicação de “Robson” e a literatura maringaense começa a existir a partir dele.

A produtora recorda que, tempos atrás, folheou e leu na biblioteca da Academia de Letras de Maringa (ALM) um exemplar em péssimas condições de “Robson”, atingido pela passagem do tempo. Na reunião seguinte da ALM, Ramalho propôs ao autor a reedição do material. Mas ele não queria, alegando que “os poemas não tinham qualidade nenhuma” e eram de sua juventude.

Quem ajudou no convencimento foram duas integrantes da ALM, Eliana Palma e Jeanette Monteiro De Cnop. Assim, Assis aceitou e Ramalho custeou a produção, propondo-se a fazer exatamente como no projeto original. “Só que não tinha nada digitalizado. Logicamente”, diz Ramalho, lembrando que o livro original saiu numa época analógica, nos anos de 1950.

Em outras palavras, o trabalho exigiu pesquisa, incluindo a tipologia; a digitação um a um de cada poema, com o maior cuidado para não errar; o escaneamento da versão que pertence à biblioteca da ALM. Enfim, um trabalho artesanal em tempos digitais.

A capa foi fotografada pela editora e encaminhada para uma ilustradora de Jundiaí (SP), que elaborou uma releitura à mão. Além de fazer o tratamento de imagens, caso da antiga foto de Assis, e a contracapa. O miolo ficou a cargo de Ramalho. Depois desse processo pronto, o material foi para a diagramação. Tudo isso levou o ano todo de 2017, em um processo bastante lento e cuidadoso.

Em seguida, Assis aprovou e a segunda edição histórica de “Robson” chegou às mãos do público em 2018, durante a Flim.

De lá para cá, a tiragem teve doações para bibliotecas e em eventos literários.

Serviço
Para saber mais informações, entre em contato pelo site (www.editoraarpublisher.com.br) e redes sociais: Facebook (@arpublishereditora) e Instagram (@arpublishereditora).

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