Resenha: Do Contra vive na corda bamba entre as culturas japonesa e brasileira em Graphic MSP

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Cena da HQ (Crédito: Reprodução)

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Questões de ancestralidade, lugar no mundo (com seus caminhos) e diversidade compõem o cerne de “Do Contra – Herança”, que é o 41º volume do selo Graphic MSP. Escrita e desenhada pelo paranaense Yoshi Itice, essa obra em quadrinhos acabou de ser lançada, em março de 2024.

Como é de praxe nessa série em circulação desde 2013, o quadrinista convidado reimaginou um dos personagens criados pelo escritor e desenhista Mauricio de Sousa, a mente fértil por trás da Turma da Mônica, sucesso de vendas e leitores há décadas.

Desta vez, uma figura coadjuvante nos gibis da Turminha, mas que é carregado de simbolismo: o contraditório, pois é um menino, descendente de japoneses e brasileiros, que ama discordar dos outros.

Estreante em agosto de 1994, à época em que Mauricio publicava pela editora Globo (hoje é Panini), Do Contra apareceu pela primeira vez em uma HQ escrita por Rosana Munhoz, desenhada por Julio Sergio Mauricio e com arte-final de Kazuo Yamassake.

A inspiração para o personagem foi outro filho do famoso quadrinista, Maurício Takeda e Sousa. “Porque, desde menino, ele, quando via alguém fazendo coisas sempre da mesma maneira, decidia experimentar realizar aquilo de outro modo, só para ver o resultado”, diz o texto encartado nos extras da Graphic MSP.

Em outras palavras, Do Contra representa o inconformismo e a busca por outro caminho, que pode não ser o mais assertivo, mas é diferente.

É justamente esse aspecto que Yoshi Itice, designer gráfico nascido em Curitiba neto de japoneses e brasileiros, explora em sua graphic novel dedicada ao personagem. Na história, “Do Contra encara, do seu jeito bem particular, as dificuldades de se identificar com o complexo mundo à sua volta. Afinal, ele é brasileiro ou japonês? Ou os dois?”, diz a sinopse oficial.

Edição foi lançada em março de 2024 (Crédito: Cristiano Martinez)

Em busca de um lugar no mundo
A partir desse mote, Itice discute o lugar no mundo para o protagonista, que no meio de crianças ditas “brasileiras” (taí outra discussão) é chamado pejorativamente de “japa” e sofre perseguição; mas na cultura nipônica, é visto como brasileiro, porque tem um pai que não é descendente de japoneses.

Na contracapa da edição, o jornalista e professor Leonardo Sakamoto chama atenção para esse sentimento de quem não se encaixa em nenhum dos dois mundos e sente-se oprimido por eles. “E que, ao questionar os dois, questiona a si mesmo”.

Desse modo, segundo Sakamoto, o caminho do jovem protagonista dessa obra é iluminado pelas palavras sábias de seu “jichan” (avô). “O sangue que corre em suas veias não é um fardo! É uma grande honra. E ter orgulho disso não é ser arrogante… É ser grato!”.

Em resumo, Maurício Hiromashi (nome verdadeiro do personagem principal nessa HQ) vive na corda bamba entre as culturas japonesa e brasileira. Não por sinal, a graphic novel se chama “Herança”, ou seja, aquilo que se herda, podendo ser um conjunto de bens espirituais, obras ou ideias que se recebem dos pais, das gerações anteriores, o tal legado.

Só que Do Contra, como é da sua índole, quer fazer do seu jeito. Por exemplo, na escolinha japonesa, se recusa a aprender o idioma de seus antepassados por parte de mãe e provoca a professora, a “sensei”. Já no futebol, inventa uma posição e um estilo de jogo que vão contra as regras desse esporte adotado pelo Brasil e tão popular em terras tupiniquins.

Assim, o desafio do protagonista é encontrar seu caminho no mundo, ou melhor, criar a sua estrada levando em conta a sua origem. Para isso, precisa ser flexível e achar um meio-termo.

Cena da HQ estrelada pelo Do Contra (Crédito: Reprodução)

Narrativa
O estilo de narrativa tem um tom de anime, com cenas explosivas, coloridas e ritmo ágil. Seu autor elabora um quadrinho que é ao mesmo tempo divertido na composição e profundo na abordagem temática.

Além de repleto de referências à cultura oriental – que somente um nikkei vai sacar, em algumas passagens – e aos volumes anteriores do selo Graphic MSP.

Aliás, Itice consegue fazer um aspecto que é próprio das melhores obras dessa série da Mauricio de Sousa Produções (MSP): jogar luz sobre personagens desse universo de quadrinhos. Ou seja, apontar características e ideias que, às vezes, estão escondidas nos gibis de banca da Turminha. Não é pouca coisa.

Em tempo, “Do Contra – Herança” vai figurar, em breve, na lista dos melhores lançamentos do quadrinho nacional em 2024. Concorda?

Por parte de mãe, Do Contra tem ascendência nipônica (Crédito: Reprodução)

Selo surgiu em 2013
O germe do selo Graphic MSP ocorreu em 2009, quando o editor Sidney Gusman, o Sidão, comandou o projeto “MSP 50”, uma trilogia de edições especiais (hoje conhecidas pelas capas em amarelo, azul e vermelho) em que quadrinistas convidados (entre desenhistas e roteiristas) elaboraram HQs curtas reimaginando personagens da galeria criada por Mauricio de Sousa.

Em 2013, surgiu a primeira Graphic MSP, “Astronauta – Magnetar”, de Danilo Beyruth. Sucesso de público e crítica, com uma visão sci-fi altamente elaborada e fluida do Astronauta (aquele da nave em forma de bola nos gibizinhos).

De lá para cá, já foram mais 40 volumes (contando com “Do Contra – Herança”) com edições especiais de histórias “fechadas”, nas versões capa dura e capa cartão. Mas sempre recheadas de material extra, contando as origens do personagem e os bastidores de criação da graphic novel. E, claro, HQs originais e marcantes.

Pelo selo, já passagem aventuras (com direito a trilogias em alguns casos) estreladas por Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão, Franjinha, Jeremias, Xaveco, Bidu, Louco, Chico Bento, Capitão Feio, Penadinho, Anjinho, Turma da Mata, Piteco, Denise, Tina, Horácio, Turma da Mônica, Mingau…

Para a temporada de 2024, ainda o volume 3 estrelado pelo Capitão Feio, produzido por Magno Costa e Marcelo Costa; a sequência do Louco, com traço do paranaense Rogério Coelho; e ainda a estreia de Verônica Berta no selo, com sua releitura da personagem Marina.

Serviço

“Do Contra – Herança” é vendida nas versões capa dura e capa cartão.

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