“Tex Willer, o justiceiro solitário”. Deste modo, a índia Tesah se refere ao personagem do caubói fugitivo da história em quadrinhos “O totem misterioso” (“Il totem misterioso”, em italiano) publicada em 30 de setembro de 1948. Enfim, há mais de 75 anos.
Era a estreia de Tex Willer nas bancas de jornal da Itália. Este personagem fora criado por Gian Luigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (desenhos), o Galep.
A série começou a circular com o título “Collana del Tex”, em formato horizontal, com uma tira (composta de três quadros) por página. Nascia ali aquele que se tornaria, com o passar do tempo, no personagem mais conhecido dos fumetti (como são chamadas as HQs na Velha Bota). Principalmente de apelo de massa.
“Fez sucesso por conseguir incorporar a fórmula do folhetim à narrativa do gibi. Seguindo essa fórmula, as aventuras tornavam-se intermináveis, como as novelas da Rede Manchete. Com muito sucesso, é prudente esclarecer”, escreveu Patrícia Villalba, em matéria publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 28 de agosto de 1998, quando Tex completou 50 anos.
Posteriormente, Tex ficaria conhecido como “Águia da Noite”, pois é o chefe branco dos Navajos; ou apenas “ranger”, já que se tornaria um Texas ranger, a polícia especial do Velho Oeste. Aliás, suas aventuras se passam na segunda metade do século 19, ambientadas numa época de conquista do oeste americano onde as coisas se resolviam na base da bala.
Em 1948, quando o mocinho surgiu pelas mãos da dupla Bonelli/Galep, a Itália passava por um período de reconstrução no pós-Guerra e as pessoas precisavam se distrair e necessitavam de algo que as ajudasse a olhar para a frente, segundo o tradutor Júlio Schneider. “Bons filmes e gibis ajudam muito. Já há alguns anos as bancas da Velha Bota estão cheias de revistinhas em quadrinhos com aventuras de todo tipo, principalmente de faroeste, que refletem o ânimo do momento ao mostrar terras a explorar, um país a construir e, principalmente, fazer ver que é possível derrotar os opressores: o mocinho castiga o vilão, o político ladrão, o militar obtuso, e o leitor se sente vingado, acredita que sim, é possível vencer”, escreveu na revista “Tex em Cores”, de 2009, da editora Mythos.
Nesse cenário, era lançada a revista do Tex em território italiano. Pouco tempo depois, o personagem aportava no Brasil, em janeiro de 1951, a partir do número 28 da revista “Júnior”, editada por Roberto Marinho em seu jornal O Globo – ele ainda não havia fundado a Rio Gráfica Editora (RGE). Mas o nome dado ao herói foi “Texas Kid”.
“Wilson Drummont, o editor, mudou o nome de Tex para Texas Kid para dar ao mocinho um tom mais juvenil e, assim, seguir a trilha das duas concorrentes, com jovens heróis como os protagonistas de suas histórias”, explica o jornalista e escritor Gonçalo Junior, em seu livro “O mocinho do Brasil: A história de um fenômeno editorial chamado Tex” (2009, ed. Laços).
Em alguns momentos, “Júnior” chamou o caubói pelo nome correto, como aponta Gonçalo. Mas prevalecia Texas Kid. Até que o protagonista saiu de cena no número 263. Ocorreu um hiato de 14 anos, até que em fevereiro de 1971 a editora Vecchi deu nova vida editorial a Tex em título que levava o nome original do personagem, com a história “O signo da serpente”.
A aventura com essa casa fundada por italianos duraria até 1983, com o número 164, em meio à crise que levaria ao fechamento da Vecchi em 70º ano de vida. Segundo Gonçalo, até a interrupção da revista, em fevereiro daquele ano, “Tex” era o segundo gibi que mais vendia no Brasil, perdendo apenas para a “Turma da Mônica”, de Mauricio de Sousa, publicada pela Abril.
Rio Gráfica/Globo
Não demorou muito para a Rio Gráfica de Roberto Marinho reaver o caubói bonelliano, passando a publicá-lo em 1983, a partir da edição 165, dando continuidade à numeração histórica da Vecchi.
“Nos três primeiros anos de nova editora, ‘Tex’ viveu uma fase de consolidação na Rio Gráfica e sem nenhuma ousadia editorial, com duas revistas mensais”, escreve Gonçalo Junior. Já em 1986, quando a editora adotaria o nome Globo, surgiu “Tex Coleção”, que prometia a republicação de “Tex” na mesma ordem das aventuras dos originais italianos.
Outra publicação criada foi “Tex Edição Histórica”, entre outros títulos.
O projeto global duraria até 1998.
Mythos
E, finalmente, a Mythos dos diretores Dorival Vitor Lopes e Helcio de Carvalho, figuras tarimbadas do mercado editorial de quadrinhos no país, deu novo fôlego ao personagem, publicando sua revista do número 351 em diante. Era janeiro de 1999.
A fase com essa editora vem se perdurando até os dias de hoje, tornando-se a mais longeva, com 24 anos de publicações. Nesse tempo todo, a Mythos criou e manteve diversos títulos relacionados ao personagem em atividade, além da revista mensal: “Tex Coleção”, “Tex Willer”, “Tex Almanaque”, “Tex Edição Histórica”, “Tex em Cores”, “Tex Graphic Novel”, “Tex Edição Gigante” etc.
Aliás, o fumetto texiano principal já passou dos 640 números. Uma das apostas recentes da atual editora é a coleção “Tex Omnibus”, que são volumes colossais (mais de 800 páginas) reunindo histórias em ordem cronológica, a partir da estreia de 1948, “O totem misterioso”.
Os fãs esperam religiosamente a cada número publicado sobre o personagem. A esperança é de que Tex nunca abandone as pradarias brasileiras, ao lado de seus pards Kit Carson, Jack Tigre e Kit Willer.