Amigo, estou aqui…

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É correto afirmar que os sentidos que atribuímos à amizade vêm sendo construídos socialmente, assim como outros sentidos presentes em nossa vida, como o do amor e do ódio. Como construção social, a amizade é dinâmica e é construída com o decorrer da cultura e das épocas históricas.

Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito” ou “Amigos para sempre é o que nós iremos ser” são demonstrações claras que, de um tempo para cá, a amizade assumiu um caráter primordial em nossa vida. Deixando as músicas em plano de fundo, discutirei brevemente como a amizade é entendida na teoria.

Inicialmente, posso dizer que algumas características a diferenciam do amor: a não-exclusividade, a ausência de desejos eróticos, a liberdade e a reciprocidade. A amizade exige sempre alguma forma de reciprocidade. Uma vez que aparece como uma relação igualitária, requer menos compromissos e obrigações. Normalmente também não provoca sofrimento psíquico quando acaba, podendo ser rompida de forma natural.

Winnicott (1964) discorre sobre as relações de amizade e afirma que, dentre outras coisas, a brincadeira nos dá base para iniciarmos relações emocionais e desenvolver contatos sociais. Ademais, ele também afirma que a capacidade de estar só é de extrema importância para a manutenção das amizades. Tal capacidade começa a se desenvolver a partir da relação do bebê com seu cuidador, e permite ao indivíduo perceber uma vida pessoal própria, o que é condição inicial para que haja o contato com o semelhante e para que esse contato apareça como um movimento do seu próprio eu.

Outro fator que devo destacar é a experiência da mutualidade. É um tipo de comunicação corporal e silenciosa que se inicia na infância e que, posteriormente, assume caráter constituinte de todas as formas mais tardias de intimidade, como a amizade, que nos remete a uma comunicação não verbal, tendo assim um clima de confiança.

Não podemos nos esquecer de outro ponto importante: para desenvolvermos a capacidade de fazer amigos precisamos estar com nossa capacidade de nos relacionar com a realidade externa em dia. Para tanto, na infância, a condição para que a criança passe a perceber a existência de uma realidade externa e independente dele parte da obtenção de experiências ilusórias, no sentido de criar objetos que lhe são apresentados para estimular sua criatividade e, também, para que ele comece a perceber a realidade autônoma dos objetos do mundo. A capacidade de reconhecer que os objetos são independentes de nós nos permite reconhecer as pessoas como diferentes, possibilitando a descoberta do outro. Isso se faz presente nas relações de amizade. Os laços afetuosos entre amigos se fortalecem com o reconhecimento da alteridade.

Em nossas relações afetuosas e amistosas somos, concomitantemente, criados e achados. Fazemos parte da realidade externa e, ao mesmo tempo, somos criados subjetivamente. São vistos na amizade uma dimensão de alegria, o prazer de nos comunicarmos intimamente com o outro. Isto é, gozamos do intercâmbio emocional e afetivo com o semelhante, mas que também é diferente de mim.

A capacidade de concernimento, para finalizar, é outro fator percebido na amizade, e significa a consideração e o cuidado que temos com o outro, o que inclui também os reparos que fazemos nas relações com nossos amigos, considerando nossos sentimentos como ambivalentes. Sendo assim, o concernimento impede que frustrações e raivas findem com o vínculo estabelecido. A referência para este texto foi retirada do artigo “A noção de amizade em Freud e Winnicott”, de Ana Lila Lejarraga, publicado em 2010, na revista Natureza Humana.

 

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