As doenças fazem parte da história da humanidade. Inúmeros relatos de surtos atormentaram os povos. O capítulo 13 do Levítico trata de doenças da pele a serem diagnosticadas pelos sacerdotes. A lepra, doença milenar, existe até hoje. Para essa doença não havia preocupação em buscar a cura; as pessoas simplesmente eram segregadas da proximidade social, afastadas, expulsas do convívio da família e da sociedade.
São Francisco de Assis converteu-se num encontro casual com um leproso. Este acontecimento abriu-lhe os olhos da fé, começou seu grande itinerário vocacional como discípulo de Jesus Cristo. Sua conversão começa a derrubar muros do isolamento, aproxima-se, acolhe a pessoa doente, que também é filho de Deus. No rosto de uma pessoa excluída por doença mora o Deus da compaixão e da misericórdia.
Na primeira Carta de Paulo aos Coríntios nos deparamos com comidas consideradas puras e impuras. As pessoas com certas doenças, no tempo de Jesus, eram consideradas pessoas impuras. Estão novamente em jogo o conceito de pureza e impureza. Para acolher a todos, Paulo convoca para uma reflexão de unidade, proximidade e de acolhimento.
Ele considera que todos – judeus e pagãos -, como chamados a uma vocação única: a da comunhão com o Deus vivo e verdadeiro, que se torna possível mediante a ação da comunidade. Façam como eu, que em tudo procuro agradar a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de todos, para que sejam salvos (1 Cor 10, 33). O interesse de todos é o encontro de toda a humanidade com Deus, em Jesus Cristo.
O Evangelho de Marcos pouco diz sobre o conteúdo das pregações de Jesus, mas aponta a ação do Filho de Deus. Estamos diante do terceiro milagre narrado por Marcos, a cura de um marginalizado (Mc 1,40-45). Aparece Jesus na vida do leproso com a intenção de curá-lo, inclui-lo no seio da comunidade. Jesus dá uma ordem ao curado: “Não digas isso a ninguém! Vá, mostre-se ao sacerdote e ofereça o sacrifício que Moisés mandou, como prova para eles” (v. 44).
Tudo leva a crer que a tarefa da pessoa curada consiste não em divulgar o milagre, mas em colaborar para que o código de pureza seja abolido de fato. Ele deverá se mostrar ao sacerdote para que este constate sua cura. Sinal de prova para eles tem este sentido: o sacrifício serve como testemunho contra o sistema a que o declarava um punido por Deus, banido do convívio social (Roteiro Homilético, p.366).
Hoje, o mundo todo espera pela cura da enfermidade causada pelo novo coronavírus. A intervenção divina acontece por meio da habilidade dos cientistas e dos profissionais da saúde, que se dedicam ardorosamente à pesquisa para encontrar a vacina que imunize o organismo humano contra a Covid-19.
Infelizmente, espiritualistas e negacionistas chantageiam as conquistas da ciência, desrespeitam as orientações da Organização Mundial da Saúde, provocam aglomerações nas ruas e algures, pregam desesperadamente o fim do distanciamento, ignorando centenas de milhares de pessoas já falecidas e outros milhões de infectados.
Qual é a sua contribuição para diminuir a pandemia nos dias atuais? Ouçamos atentos os órgãos internacionais, cientistas, pesquisadores e a Vigilância Sanitária, com os quais está toda esperança.
Dom Frei Severino Clasen, ofm
Arcebispo Metropolitano de Maringá – PR