Que planeta os habitantes de hoje vão entregar às futuras gerações? Que futuro se pode obter sem combater a pobreza, o racismo, a violência e a intolerância?
Estas são algumas perguntas que o artista brasileiro e muralista Eduardo Kobra se faz antes de embarcar na produção de qualquer painel ou mural.
Melhorar o mundo
Recém-chegado de Benin, na África, onde pintou um painel sobre tolerância religiosa, Eduardo Kobra falou ao Podcast ONU News, em Nova Iorque, sobre a carreira e a importância da defesa de temas humanitários para melhorar o entorno.
Segundo Kobra, a arte e a pintura são agentes de transformação. Desde que saiu da periferia de São Paulo, onde começou a carreira, ele procura nutrir a esperança através de seus trabalhos, que estão presentes em 30 países com mais de 3 mil obras.
E como o artista mesmo diz, é um trabalho árduo porque a maioria é feita na rua ou ao ar livre. Como lembra o painel “The Future is Now”, na fachada da ONU.
Artistas de rua em Nova Iorque
“A gente virou madrugada fazendo esse trabalho. Lembrando que estava bastante frio também nesse momento. Então, esse resultado aí, além do trabalho que eu já fiz anteriormente. Para você conseguir parar a máquina ali na calçada, é um tipo de permissão. Por exemplo, tem as bandeiras (da ONU) ali. Tínhamos que proteger todos os mastros. Havia uma série de detalhes no dia a dia. Uma equipe de segurança da ONU tinha que ficar ali nas madrugadas junto com a gente para que pudéssemos sair e entrar no prédio. Então, tinha toda uma questão de segurança, mas foi um trabalho muito complexo, mas com certeza, um dos mais importantes da minha história. Então, fiquei muito feliz e me marcou demais”.
Kobra fala da infância humilde no bairro de Campo Limpo, em São Paulo, e do sonho de pintar em Nova Iorque, onde artistas de rua o inspiram desde os anos 80.
“Nos Estados Unidos, a gente calculou. São mais de 50 murais. E desses 30 (países) a muitos eu volto, algumas vezes. Eu não faço acepção. Eu acho que tudo, para mim, agrega valor ao meu trabalho, conhecimento etc. Eu já fui para lugares incríveis, pintei na Índia, em Mumbai, (no trem), pintei na África, duas vezes, dois painéis lá. Então, pude caminhar ali, pude entender mais da história. Eu acho isso, uma experiência assim, que a arte está me proporcionando, de vida.”
Doença, fé e ciência
Após passar por momentos difíceis com uma doença provocada pelas tintas, a perda da filha recém-nascida e sofrer com depressão, o muralista diz que a fé em Deus o levantou. E durante a pandemia, ele procurou mostrar com sua arte que fé e ciência podem sim caminhar juntas com um painel nos Hospital das Clínicas em São Paulo.
“Então, a fé em Deus me resgatou desse lugar de depressão, de angústia, de dificuldade, é esse mural aí. Essa fé me sustenta, com certeza, eu não estaria aqui, e não conseguiria sentir em frente com tantos desafios. E eu gosto sempre de passar essas mensagens de esperança, de perseverança, de fé, de amor ao próximo, de tolerância, de respeito, de coexistência, de união dos povos, através das minhas obras.”
A arte é de todos
O muralista acredita que a arte vem de dentro para fora e pertence a todos independentemente se o autor nasceu na favela ou num palácio.
“Muito gratificante também para mim, e muito inspirador, e é algo que eu não esperava é a conexão. Pessoas que se conectaram com minha obra. Pessoas que nunca entraram numa galeria de arte. Mas ela está lá. A street art está lá. Essas pessoas estão indo, talvez, pela primeira vez para visitar uma galeria, uma exposição, um museu para ver uma obra que eu coloquei lá. Que foi o que aconteceu com meu pai. Meu pai entrou, pela primeira numa galeria de arte, para visitar uma obra que eu estava expondo para você ter uma ideia…”
O Podcast ONU News é uma produção da TV ONU e da ONU News e vai ao ar toda sexta-feira, nos canais da ONU News no YouTube e na internet.
Na sexta, 2 de junho, a entrevistada será a bailarina brasileira do Dance Theatre of Harlem, Ingrid Silva.
Fonte: Organização das Nações Unidas