No início de maio, uma missão do Fundo das Nações Unidas para a População, Unfpa, foi a Portugal para angariar apoio e mobilizar recursos para o trabalho da agência com meninas e mulheres.
Localizado no sudeste da Ásia, o Timor-Leste é uma das nações que formam a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Cplp, desde 2002.
Forte tendência
Com a restauração da independência, no mesmo ano, o Timor, uma ex-colônia portuguesa, que foi anexado pela vizinha Indonésia, nos anos 1970, decidiu fazer do português sua língua oficial.
Para o especialista em programas para saúde sexual e reprodutiva, Sergio Esperança, que participou da missão do Unfpa, no mês passado, existe um “certo desconhecimento” sobre esses temas.
Ele lembra que Portugal, que já tem uma forte cooperação com países lusófonos na África, tem despertado mais interesse pela agenda de trabalho do Unfpa no Timor.
Violência baseada em gênero
“Não só uma grande abertura, mas também uma vontade de ajudar, obviamente respondendo às áreas de intervenção das diversas instituições, por exemplo, com o Instituto Camões, que é a organização do Ministério dos Negócios Estrangeiros Português, que trata a cooperação de Portugal. Falamos sobre muitas áreas de possível cooperação, mas nomeadamente nas questões da saúde sexual e reprodutiva, saúde materna e infantil, em particular da prevenção e resposta à violência baseada no gênero, mas também com outras organizações do setor privado. Por exemplo, hospitais e também laboratórios que estão disponíveis para alargar a sua cooperação e intervenção com o Unfpa em Timor.”
Durante a missão, a representante do Unfpa em Díli, Pressia Arifin-Cabo, contou que conseguiu obter promessas de apoio para algumas ações da agência da ONU em Timor-Leste e que estava satisfeita com as conversações sobre futuras parcerias entre Portugal e a nação asiática.
Pressia Arifin-Cabo, falou sobre os altos índices de violência doméstica no Timor-Leste que chegam à metade das mulheres.
Apoio psicológico
“Em Timor-Leste, uma em cada duas mulheres na idade de 15 a 49 é vítima de abuso sexual ou físico por um companheiro. Agora, o Unfpa apoia o setor de saúde para responder as necessidades das mulheres que tenham sido vítimas de abuso sexual, por exemplo. Construímos espaços dentro de um hospital ou um centro comunitário para que a mulher possa ter a privacidade para fazer um exame físico e ter apoio psicológico.”
Para Sergio Esperança, os homens também podem ajudar a combater a violência de gênero.
“De facto, os casos reportados são, na sua grande maioria, de mulheres e de raparigas. Não querendo dizer que não existem, obviamente de rapazes e de homens. Mas de facto, estamos numa sociedade ainda muito patriarcal, onde a queixa a denúncia ainda é vista como algo relacionada com a fraqueza e não necessariamente com coragem. Mas depois também o envolvimento dos homens na redução das taxas de violência baseada no gênero é também importante.”
Língua portuguesa entre os jovens
A agência da ONU trabalha com homens e rapazes para reforçar a educação nas escolas e nas comunidades para combater a violência de gênero e promover igualdade entre homens e mulheres.
A representante do Unfpa, Pressia Arifin-Cabo também falou sobre como é feito o contato com a população em língua portuguesa sobre o trabalho da agência. Antes dela, o especialista do Unfpa, Sergio Esperança, discorreu sobre o papel do português no Timor-Leste.
“Em termos da língua, o português está muito vivo em Timor. E é uma língua que permite essa flexibilidade. Claro que sabemos que Timor fez uma decisão política, na altura da independência, de adotar a língua portuguesa como língua oficial juntamente ao tétum, que é uma língua materna, que tem uma grande mistura do português, que aliás essa sim verdadeiramente flexível, que tem uma mistura do indonésio e de outras línguas malaias. Mas de facto, o português é uma língua muito viva que continua a crescer no país. Não só no setor formal do governo, obviamente a língua de trabalho é prioritariamente português. Os vários documentos legais são em língua portuguesa. Todas as leis, os documentos que o próprio Unfpa em apoio ao governo são feitos em português.”
Desde 2002, a língua portuguesa é ensinada nas escolas e universidades. Mas 21 anos após a independência, os jovens estão falando português fluentemente? Quem responde é a representante do Unfpa, que está em contato com jovens recém-saídos da universidade ou que já estão no mercado de trabalho.
“Jovens preferem o inglês”
“Os adolescentes e jovens preferem falar inglês. Para eles, o inglês é uma língua mais importante também no contexto da Asean, que é um tema muito importante para Timor-Leste. Entretanto, o português é a língua oficial e se alguém quer trabalhar para o governo é importante falar, ler e escrever em português.”
A missão do Unfpa a Portugal também incluiu visitar ao setor privado em hospitais e laboratórios que se ofereceram para estender os serviços a mulheres e meninas timorenses em ações de parceria e cooperação.
Fonte: Organização das Nações Unidas