Conhecido como “Jornal do Bispo”, a Folha do Norte do Paraná passou pelo processo de digitalização de seu acervo, em trabalho desenvolvido pela Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, em parceria com a Central de Documentação (Comcap) da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
A Folha foi uma referência no jornalismo regional entre 1962 e 1979. Nesta terça, 10 junho, o jornal completou 46 anos de encerramento.
Segundo informações, o jornal foi fundado por Dom Jaime Luiz Coelho, primeiro bispo de Maringá. Começou a circular oficialmente em 25 de setembro de 1962, com tiragem média de 7 mil exemplares diários. Durante quase 17 anos de circulação, alcançou mais de 100 cidades e se tornou referência regional em informação, opinião e formação de profissionais da comunicação.
“Dom Jaime pensava longe. Queria fazer da Folha o maior jornal do interior do Brasil para combater o esquerdista (como era chamado pelos militares e pela Igreja, e não sem razão) Última Hora, de Samuel Wainer. Se não chegou a tanto, o jornal do bispo pelo menos passou a ser uma referência no Estado para os leitores de mais de cem cidades e até onde alcançava seu poder junto às dioceses”, diz o livro on-line “O Jornal do Bispo – A história da Folha do Norte do Paraná”, escrito pelo jornalista Antonio Roberto de Paula e disponível para leitura neste link: https://www.museuesportivo.com.br/site/publicacoes/categoria/9
No início, a Folha se viabilizou por meio de recursos advindos da venda de ações. “Com isso, foi possível adquirir em 1961 os primeiros equipamentos em São Paulo. A maior parte das máquinas, inclusive a rotativa, era de segunda mão, mas bem superior aos equipamentos que até então eram utilizados pelos jornais de Maringá e da região”, escreve De Paula.
Assim, seguiu-se todo o processo de estruturação do jornal (equipe, local etc.), com direito a circulação experimental, até o lançamento oficial.
Encerrado em 10 de junho de 1979, o periódico deixou um legado inestimável, agora preservado digitalmente em 78 volumes. O acervo impresso, que já era fonte de pesquisa para estudiosos da história paranaense, agora está preservado digitalmente e acessível ao público no Arquivo Histórico Municipal de Maringá, localizado no Teatro Calil Haddad.
“A digitalização da Folha do Norte do Paraná é um ato de respeito à memória da cidade. Preservar esse conteúdo é garantir que futuras gerações tenham acesso a uma das fontes mais ricas da formação social, política e cultural de Maringá e região”, destaca o secretário de Cultura, Tiago Valenciano, via PMM.
O acervo já pode ser consultado presencialmente e a versão digital amplia o alcance desse importante registro. O processo de digitalização teve início em 2022 e foi concluído neste mês.

Livro on-line
O livro on-line de Antonio Roberto de Paula, que hoje também é conhecido como diretor do Museu Esportivo de Maringá (MEM), é fruto de sua monografia de conclusão do curso de Comunicação Social no Cesumar (Centro Universitário de Maringá), em 2001. A versão no formato de livro tem atualizações e mudança de título na comparação com o produto acadêmico.
Entre os motivos que levaram De Paula a escrever sobre a Folha está o marco desse jornal na história maringaense. “Ela ficou marcada na história de Maringá, pois representa a passagem do jornalismo artesanal e romântico para o profissional e quase impessoal. A Folha cresceu com a cidade, mas sucumbiu diante da modernidade”, explica o autor na apresentação.
“Este trabalho tem a pretensão de mostrar aos que querem enveredar pelo tortuoso e gratificante caminho do jornalismo a motivação daqueles profissionais, o trabalho num jornal em que a Igreja Católica era a patroa e o relacionamento com os poderes constituídos”, acrescenta De Paula. “Tenho esta pretensão, mas mesmo que não a atinja já estarei colaborando para contar, sob o meu ponto de vista, construído através dos relatos ouvidos de profissionais que atuaram no jornal, este período do jornalismo maringaense, que teve início em 1962 e terminou em 1979”.
Da maneira geral, “O Jornal do Bispo – A história da Folha do Norte do Paraná” é fruto de pesquisas e entrevistas, incluindo o 1º arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho, os arrendatários Joaquim Dutra e Jorge Fregadolli, e o jornalista Antonio Augusto de Assis, que permaneceu durante 12 anos como diretor de redação.
“Dom Jaime Luiz Coelho, que havia me concedido entrevistas em outras oportunidades, se mostrou receptivo. Ao contrário das outras vezes, em que queria informações sobre o que seria divulgado, nesta isto não aconteceu. Acrescento que o arcebispo não leu nenhum capítulo deste trabalho”, recorda De Paula, também na apresentação do livro.