Cansada de cantar sozinha em casa, Aleciane se juntou a um grupo de amantes da boa música e hoje a Uma Nota Bossa Band é sucesso em eventos e restaurantes na ilha da Sicilia
Luiz de Carvalho
Aquele jeito de puxar as cordas do violão, aquele sincopado e o canto intimista que em qualquer lugar do mundo alguém identifica como “estilo brasileiro”, ou bossa nova, pode ser ouvido aos pés do Vulcão Etna, na cidade de Catania, na ilha da Sicilia, Itália. O acompanhamento é de músicos italianos amantes da bossa nova, mas a voz que sussura as canções de Tom Jobim, Carlos Lira e Roberto Menescal, prendendo a atenção do público e fazendo o Etna adormecer, é bem brasileira, bem bicho do Paraná, bem maringaense.
O grupo, que nesta sexta-feira, 2, se apresentou na Jazz Food Wine, no Ristorante Masseria Carminello la Timpa, ambiente sofisticado de Catania, frequentado por apreciadores do que existe de melhor em vinhos e comida, é o Uma Nota Bossa Band e a cantora é a maringaense Aleciane Gonçalves, que afinou a voz cantando na igreja e chegou a iniciar uma carreira nos barzinhos de Maringá quando decidiu se mudar para a Itália, em 2008.
Aleciane, que cresceu no Jardim São Silvestre, era secretária da Redação do jornal O Diário e foi à Sicilia para ajudar sua irmã, que já morava na Itália e estava grávida. “Era para ficar só uns dias e já faz 16 anos”, diz ela, que por tão cedo não pensa em voltar a viver no Brasil.
Cidadã italiana, Aleciane passou por diversos serviços e atualmente é funcionária da prefeitura de Mascalucia. Mas, foi a música que mudou sua vida.
“Sempre digo que não me considero uma cantora, seria uma ofensa para as cantoras profissionais de verdade. Eu canto por amor e quando canto coloco paixão e o meu público sente toda a paixao que eu trasmito. E, devagarzinho, eu e o meu grupo estamos entrando no coraçao de todos”, conta Aleciane, que agora dedica boa parte de seu tempo à música.
A carreira musical entrou em sua vida meio por acaso, mais devido à saudade que sentia do Brasil e da música brasileira. “Um dia, vi no Facebook que uns artistas estavam procurando uma voz para completar uma banda. Muito timidamente, respondi na postagem com quatro palavras: “eu canto bossa nova”.
Ela conta que os garotos da banda lhe enviaram uma lista de 10 músicas para que ensaiasse para um teste. “Ensaiei, mas quando fui mostrar a eles, foi um desastre total”.
Mas, o pessoal da banda viu algo mais do que o “desastre total” e persistiu, confiou que daquele “desastro” poderia ser lapidada uma pedra preciosa. “Comecei a estudar, começamos a ensaiar e entre uma desafinação e outra lá se vão quatro que estamos juntos e evoluindo”.
Sob a coordenação do violonista, arranjador e compositor Salvo Torrisi, hoje o Uma Nota Bossa Band é um grupo de sucesso e com um estilo bem definido. Além de composições dos pais da bossa nova no Brasil, a banda tem um trabalho autoral bem interessante e está selecionando composições de seus membros para a gravação de um EP ainda neste ano. Na internet, seus vídeos são sucesso, não somente na Itália.
O percussionista Alfonso Lauria e os sopros Giuseppe Maugeri e Salvo Giudice completam a formação, que tem na maringaense Aleciane Gonçalves a voz que está fazendo a bossa nova ser cada vez mais italiana. “Os italianos amam mais a bossa nova do que os brasileiros”, diz.
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