Evilásio, o agrimensor, é homenageado pela cidade que ajudou a construir

Como agrimensor da prefeitura, Evilásio Paulo Novaes deixou sua marca na maioria das obras públicas realizadas na cidade nos últimos 30 anos

evilásio

Evilário Paulo Novais trabalhou 30 anos na prefeitura

Evilásio era homem da exatidão. Como agrimensor da prefeitura durante 30 anos, pode-se dizer que quase todas as obras realizadas pelo poder público nesse período em Maringá dependeram da precisão de suas medições, cálculos, mapas e memoriais. A base para os projetos que os engenheiros fariam. Assim nasceram espaços como o Aeroporto Regional Silvio Name, o Contorno Sul e seu irmão caçula Contorno Norte, parques industriais, bairros inteiros, parques, prédios, o Teatro Calil Haddad e ele se orgulhava muito das mudanças realizadas com a duplicação das avenidas Alício Arantes Campolina, nos fundos da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e Carlos Borges, na região conhecida como Borba Gato, cartões de apresentação da administração municipal.

Para Evilásio Novais, trabalho de agrimensor é no campo e a identificação do profissional se completa com o parceiro da vida inteira, o teodolito

Evilásio olhava qualquer campo ermo, fechava os olhos e imaginava o que seria construído naquele espaço. Deve ter feito isto a vida inteira, gostava de imaginar praças, ruas, bairros inteiros. Tanto que agora uma rua nova de um bairro novinho em folha, na Zona 19, passa a chamar-se “Agrimensor Evilásio Paulo Novais”. Possivelmente a primeira rua em que aparece seu nome sem que ele tenha feito a medição.

Homenagem de amigos

Na sessão da Câmara de Maringá da última quinta-feira, familiares e amigos de Evilásio Paulo Novais compareceram para assistir a aprovação final do Projeto de Lei que dá à Rua 19 da Zona 19, na região da Coca-Cola, o nome do agrimensor falecido no dia 4 de abril deste ano, vítima de câncer.

A família com os vereadores no momento em que Evilásio teve seu nome eternizado em uma rua de Maringá

Os autores do projeto, Mário Hossokawa (PP), Sidney Telles (Avante) e Ana Lúcia Rodrigues (PDT), foram amigos de Evilásio e fizeram questão de colocar na homenagem o termo “Agrimensor” para deixar claro que trata-se de alguém que literalmente ajudou a construir Maringá.

Hossokawa disse à família que a homenagem não era somente dos autores do projeto e nem só da Câmara, que o aprovou por unanimidade, mas de toda a cidade, pois os vereadores que representam a população reconhecem a importância que Evilásio teve para Maringá.

Da escolinha rural ao universitário da terceira idade

Os filhos Ana Maria, Ana Vitória e Evilásio Júnior, todos com curso superior, dizem que uma das heranças que Evilásio deixa é o amor aos estudos. Sempre motivou os filhos nos estudos e ele, que era caladão e falava mais com exemplos e gestos do que com palavras, foi um estudioso a vida inteira.

Evilásio já era quase sexagenário quando foi para a universidade estudar lado a lado com jovens com idades para ser seus filhos

Evilásio nasceu em uma família humilde na zona rural de Londrina, cresceu nas lavouras de café, enfrentou todas as dificuldades da época e da vida na lavoura, mas estudou, escolheu cedo o que queria ser e foi em busca do sonho. Dos 11 irmãos, foi o único a levar os estudos além da escolinha rural, fez o ginásio, o científico e concluiu um curso profissionalizante em uma área de poucos profissionais de nível: Técnico em Geomensura. Traduzindo: Agrimensura, com habilidades também em Topografia, um profissional da ciência, que se utiliza de conhecimentos da geomática, como ferramenta para a aquisição e gerenciamento de dados espaciais necessários como parte de operações científicas, administrativas, legais e técnicas, envolvidas no processo de produção e gerenciamento de informação espacial.

Possivelmente o fato de ter crescido no campo deu-lhe a noção de espaço para tornar-se um agrimensor de alto nível.

A conclusão do curso não significou fim dos estudos. O garoto que veio da roça e passou a correr o Paraná fazendo medições para fazendas, construções, aberturas de loteamentos e muito mais, tinha suas horas de estudo e foi graças a essa preparação que em 1990 ele passou à frente de vários outros profissionais de agrimensura em um concurso público da prefeitura de Maringá.

Tornou-se agrimensor da prefeitura e seu serviço tinha qualidade reconhecida pelos engenheiros e arquitetos, tanto que logo virou chefe do setor e como tal ficou até a morte.

Mas, ainda a vida do estudante não findou com a vaga no serviço público: com cinqüenta e tantos anos, quase sessentando e filhos formados, Evilásio volta aos bancos escolares, fazendo uma faculdade lado a lado com garotos modernos com idade para serem seus filhos.

Curso de quê?

Agrimensura. Isto mesmo, o agrimensor que era exemplo para outros profissionais do ramo, foi para a Faculdades Uningá aprender ainda mais, descobrir o que havia de novo, complementar seu curso técnico de trinta e tantos anos antes.

Sofreu com algumas modernices, mas tirou de letra outras e o agrimensor foi em busca do aprimoramento.

Caseiro e amoroso

A mulher Erondina, o Júnior e as meninas sempre vão lembrar de um Evilásio caseiro e amoroso, um homem caladão, mas brincalhão, um homem muito agradecido pelo que tinha, um devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida e que gostava de comemorar as vitórias dos filhos.

O mesmo Evilásio que no trabalho era razão pura, técnico, exato, preciso, em casa era só emoção; aqui com Erondina, filhos e cachorros

Evilásio era quase um garoto quando conheceu Erondina. Após se formar, o jovem agrimensor trabalhou em empresas de topografia, percorreu o Estado e resolveu criar uma sociedade para assumir trabalhos de agrimensura e topografia. Isto foi em Iretama, na região de Campo Mourão, e um de seus parceiros era irmão de Erondina.

Foram quatro anos de namoro até o casamento, em 1992. Dois anos depois nasceu Ana Maria, hoje Dra. Ana Maria, advogada; em 97 veio Ana Vitória, formada em Educação Física, e em 98 o homem da casa, Evilásio Jr, pedagogo e logo logo mestre em Letras.

Assim como passou muito tempo no mesmo cargo na prefeitura, passou muito tempo também no mesmo lugar. Quando ele e Erondina vieram morar em Maringá, foram viver numa rua aos fundos do Cemitério. Era uma região nova, aberta onde antes era um setor de chácaras, o local ideal para a visão de um agrimensor apaixonado por espaços. Gostava tanto da região que comprou um terreno de esquina a poucos metros de onde morava, onde ele e a mulher construíram um belo sobrado, onde criaram os filhos, cachorros,  e todos os dias recebe a visita de um pássaro-preto, que entra em casa, brinca com os cachorrinhos e bica as pessoas.

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