Observando as mãos de pessoas, os arquitetos Ana Cattani e Airton Cattani perceberam como o tempo também pode se manifestar neste detalhe do corpo humano, ao mostrar vidas diferentes, com ritmos e inserções sociais múltiplas, e em etnias e gêneros variados. A partir do outono de 2022 fotografaram centenas de mãos, desde recém-nascidos até pessoas de 100 anos de idade.
O resultado desta pesquisa etnofotográfica é mostrado na exposição fotográfica T E M P O, promovida pelo Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá – UEM. Tanto na exposição quanto em uma publicação de mesmo nome com 224 páginas, as imagens em preto e branco são dispostas cronologicamente e identificadas apenas pelas iniciais e idade dos fotografados. Quando observadas em seu conjunto, as fotografias podem ser vistas como um amplo retrato da diversidade da vida, tornando a exposição sensível, humana e, em uma aparente contradição com o tema, atemporal. O resultado é surpreendente, quer pela simplicidade do tema – apenas imagens de mãos – quer pela profundidade conceitual e emocional propiciada pelo conjunto das fotografias.
A distribuição linear das fotografias procura propiciar ao visitante uma oportunidade de refletir sobre a vida, a situar-se em relação à vida que já passou e a vida que há pela frente, e também a pensar na maneira como nossas mãos também podem nos representar e ser uma das características de nossa personalidade.
“A sequência das 101 fotos apresentadas permite perceber de maneira sutil as mudanças que o tempo produz em nossa pele e em nossa estrutura óssea e muscular”, registra o arquiteto e fotógrafo Airton Cattani, professor titular do Curso de Design da UFRGS, em Porto Alegre.
Além das marcas naturais dos anos que passam, outros indícios da passagem do tempo nas mãos podem ser percebidos em detalhes como tatuagens, cicatrizes, marcas acidentais ou intencionais e de trabalho mais ou menos duro. “Estamos felizes com o resultado e queremos compartilhar com o público de Maringá e região”, completa Ana Cattani, que tem entre suas atividades a produção de produtos autorais em papel.
Os autores destacam um dos aspectos tocantes das fotos escolhidas para a capa e contracapa do livro, também mostradas na exposição: enquanto a primeira apresenta a mão de uma criança de um ano de idade, segurada por seus pais, a outra mostra a mão da bisavó desta criança, com seus 99 anos, demonstrando em imagens o encontro simbólico dos extremos da vida.
“A fantasia de congelar o tempo por meio da fotografia produz efeitos curiosos neste livro e na exposição, pois o que se revela é o tempo como movimento e transformação. Afinal, estar vivo é estar submetido ao tempo, ao jogo dos começos e dos fins,” escreve na apresentação a psicanalista Aline Sanches, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá. “Mãos carregadas de marcas do tempo, este tempo que nos cativa e que tentamos de alguma forma reter”, registra a artista visual Maristela Salvatori, professora do Instituto de Artes da UFRGS e curadora da exposição que ficará em cartaz na Biblioteca Central da UEM de 4 a 15 de março de 2024.
Um encontro com os autores está previsto para o dia 5 de março de 2024, a partir das 18h 30, no Auditório da Biblioteca Central da UEM, quando o público poderá conhecer mais detalhes deste projeto em uma mesa redonda coordenada pela professora Aline Sanches, tendo como debatedor o prof. Murilo Moscheta, ambos do Departamento de Psicologia.
A exposição foi apresentada no Centro Cultural da UFRGS, em Porto Alegre, entre outubro e dezembro de 2022 e foi finalista do XVI Prêmio Açorianos de Artes Plásticas 2023 nas categorias curadoria, ações de difusão/inovação e publicação/livro de artista. Em novembro de 2023 a exposição foi apresentada no Centro Cultural da cidade de Bento Gonçalves/RS e entre fevereiro e março na Galeria Gerd Bornhein, em Caxias do Sul/RS.
Um vídeo de cerca de dois minutos – disponível em https://www.marcavisual.com.br/tempo –complementa a exposição, tendo como trilha sonora a música Mad Rush, do compositor americano Philip Glass, interpretada pela musicista Kátia Cesa.
Currículos dos autores
Ana Cattani (Sant’Ana do Livramento/RS, 1956) é arquiteta. Após cursos com Claude Jeantet em Paris, passou a desenvolver uma linha de produtos autorais em papel. Além de obras técnicas, é autora de Pontos resistentes (Marcavisual, 2021). Participa do coletivo Laboratório de Práticas, coordenado por Ana Flávia Baldiserotto, em Porto Alegre.
Airton Cattani (Garibaldi/RS, 1955) é arquiteto e professor titular do Curso de Design da UFRGS. Além de obras acadêmicas, é autor de Olhando para cima e para baixo no Wangjing Soho (2021), Uma cidade abstrata a seus (2021), 12 visões do paraíso (2020), Calçadas de Porto Alegre e Beijing (2019), Poema das quatro palavras (2015 – Prêmio Açorianos de projeto gráfico), 40 microcontos experimentais (2011 – Prêmios Jabuti e Açorianos de projeto gráfico) editados pela editora Marcavisual e Olhe por onde você anda: calçadas de Porto Alegre (2007), editado pela Editora da UFRGS.
Contato com os autores: (51) 99352 3736 Email: airton.cattani@gmail.com
SERVIÇO
O QUÊ: Exposição fotográfica T E M P O
PROMOÇÃO: Departamento de Psicologia da UEM
VISITAÇÃO: de 4 a 15 de março de 2024
De segundas a sextas-feiras, das 8 às 22 horas;
aos sábados, das 7h 30 às 12h 45
LOCAL: Biblioteca Central da UEM
Campus Universitário da UEM – Av. Colombo, 5790 – Bloco P03 – Maringá/PR
Fone: (44) 3011-4480
ENCONTRO COM OS ARTISTAS: dia 5 de março de 2024, à partir das 18h 30
Apresentação: Aline Sanches
Debatedor: Murilo Moscheta
Auditório da Biblioteca Central da UEM
LIVRO: O livro pode ser adquirido no site da editora www.marcavisual.com.br/tempo pelo valor de R$ 100,00.
Créditos de publicação: Airton Cattani