GUARDADORES DA HISTÓRIA
Para Wilson Matos, quem vive a história deve guardá-la para as futuras gerações
Os depoimentos colhidos dos que fizeram a história de Maringá se juntam a um dos mais completos museus particulares do Brasil
Luiz de Carvalho
A sala do reitor, no sexto andar do mais suntuoso dos vários prédios do campus universitário, não tem janela, mas tem uma parede inteira de vidro, por onde é possível ver toda a área central de Maringá e a maioria dos bairros. O professor Wilson de Matos Silva nem precisa sair da mesa de onde controla uma das maiores instituições de ensino superior do Brasil, para olhar para a cidade, mas certamente a cidade que as pupilas do senhor reitor vê tem significado diferente da que seria vista por qualquer outra pessoa olhando do mesmo ângulo. Como ele viu a cidade nascendo e crescendo no meio da mata, pode imaginar a Maringá do futuro.
Matos nasceu poucos dias depois de a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná fazer o lançamento de Maringá, em 10 de maio de 1947, cresceu nos cafezais que existiam em Iguatemi e depois veio para a área urbana com o pai, Laudelino, a mãe, dona Etelvina, e os oito irmãos.
Na cidade, Wilson ajudou o pai na padaria que a família instalou no Maringá Velho, percorreu toda a cidade em bicicleta cargueira entregando pão, morreu em vários bairros e estudou em quase todas as escolas que existiam em Maringá na época, se formou em Matemática, foi professor em várias escolas e desde 1990 é proprietário do Centro Universitário de Maringá (UniCesumar), uma das maiores e mais bem conceituadas instituições de ensino superior do Brasil, com cerca de 160 mil estudantes e um corpo docente com quase mil professores.
Além do trabalho como empresário da educação, Wilson de Matos está envolvido com várias entidades, como a Associação Comercial (Acim), Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem), Sociedade Rural, Observatório Social, Sociedade Eticamente Responsável (SER), clubes de serviço e obras sociais. Mas, ainda encontra tempo para cuidar da história de Maringá, não só por aquele saudosismo de quem testemunhou os primeiros dias da cidade, mas por responsabilidade com as futuras gerações.
“A vida só pode ser compreendida olhando-se para o passado e vivida olhando para o futuro”, diz ele, que no ano passado concretizou um sonho com o Projeto Maringá 70 Anos, convidando 60 pioneiros de mais de 10 áreas para contar a história de Maringá a cinco historiadores e jornalistas. O resultado é a publicação de três livros fartamente ilustrados que contam Maringá do desbravamento até os dias de hoje. “Dentro desta perspectiva, acho que todo cidadão tem a obrigação de preservar sua própria história e a história do meio em que vive. Esta cidade tem uma história ímpar, fundamentada em em alguns princípios: capital, condição social, planejamento, sistema fundiário e espiritualidade. Estes pilares estiveram presentes com os pioneiros e mantêm influência até hoje”.
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O professor Wilson Matos nasceu no mesmo ano que Maringá, vive nesta cidade desde que tinha cinco anos de idade e viu toda a mudança de um vilarejo até se tornar uma das melhores cidades do Brasil
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Segundo Matos, este é o momento ideal para fazer o resgate histórico. “Costumo dizer que estamos colhendo os depoimentos dos últimos dos primeiros, porque ainda encontramos em nossa sociedade muitos daqueles homens e mulheres que chegaram para desbravar a mata, e todos estão lúcidos e com os acontecimentos ainda bem vivos na memória. Se deixássemos para fazer este trabalho daqui 10 anos ou mais, possivelmente não encontraríamos mais aqueles que testemunharam os primeiros dias de Maringá”.
Muito antes de colher depoimentos de pioneiros para o Projeto Maringá 70 Anos, Wilson de Matos já dava mostras de seu apego pela história ao transportar para o pátio de sua universidade uma das primeiras casas de Maringá, decorada com móveis da época e que agrega também mais de 180 peças antigas doadas por pioneiros. Na parte externa da casa, há esculturas que representam o trabalhador do campo, que, no retorno de sua lida, tem a família à sua espera.
Também já fazia parte do acervo de saudosismo do reitor uma tulha de café, que pertenceu à Cafeeira Santo Antônio, que funcionou no final da década de 1940 na Avenida Mauá.
Mas, um dos orgulhos do professor Wilson Matos no esforço para preservar a história é o Museu UniCesumar, inaugurado em 2011. É um museu multidinâmico, interativo, com cinema em 3D, sala de vídeo, central de computadores para pesquisas e muitas fotografias, unindo a história à tecnologia para relatar o desenvolvimento da cidade desde o seu surgimento até os dias atuais. Um dos destaques do museu é a Sala do piso mágico. “Esta é uma contribuição pessoal nossa e do UniCesumar à cidade e seu povo. Tudo está à disposição de qualquer interessado, gratuitamente”, explica.
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