Com a morte do jornalista Verdelírio Barbosa, 80, na noite de quarta-feira, 13, Maringá não perde somente seu mais antigo profissional de imprensa ainda em atividade, com atuação no impresso, rádio e TV, não perde somente a resistência para manter um jornal impresso quando outras empresas do ramo deixam de existir ou migram para a internet, mas um homem do povo, aquele do cafezinho no bar com amigos, da conversa jogada fora, das análises da política e da economia, análises que não dão certo. As amizades da vida de Verdelírio Barbosa geralmente nada tem a ver com jornalismo ou o jornal.
“Era o língua preta. É assim que o chamávamos”, disse o presidente da Câmara Municipal, Mário Hossokawa (PP), ao abrir a sessão de quinta-feira e pedir um minuto de silêncio pelo amigo. O termo língua-preta se refere a jornalistas que colocam a fidelidade da notícia acima das amizades ou de relações com este ou aquele grupo político.
“Seguramente, era o homem mais bem informado sobre a política municipal, tanto no que diz respeito à conjuntura quanto à história. Era a memória viva da política de Maringá”, diz o historiador Reginaldo Benedito Dias, professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e amigo de Verdelírio há quase 40 anos.
“Com sua capacidade de diálogo, além de abrir as portas, também conseguia construir pontes, tendo trânsito nas diferentes forças políticas”, continua o historiador, autor de vários livros sobre a história política de Maringá. “Por isso mesmo, também era visto como um conselheiro por líderes políticos relevantes”.
Verdelírio Barbosa, proprietário do Jornal do Povo e responsável pela coluna “Verdelírio Barbosa”, a mais antiga coluna de política da imprensa local”, morreu no Hospital São Paulo na quarta-feira a noite depois de mais de um mês internado para tratamento da problemas pulmonares. A causa da morte gerou comentários e dúvidas, já que o jornalista nos últimos anos levava uma vida saudável, com cardápio quase que somente de vegetais, além das caminhadas todas as manhãs em torno do Parque do Ingá. Os comentários diziam que a pneumonia que o matou pode ter sido seqüela da covid-19 que contraiu alguns meses atrás ou conseqüência do fumar em demasia de anos atrás.
“Hoje é um daqueles dias em que faltam palavras, mas não faltam gratidão e bons sentimentos”, publicou em sua rede social o jornalista Diniz Neto, amigo pessoal de Verdelírio e companheiro de trabalho em diversas ocasiões. “Verde, meu amigo, seu legado permanecerá para sempre”, completou.
“Notícia triste e lamentável! A troca de guarda continua, mas torço que seus filhos levem avante seu projeto de resistir editando o último jornal impresso de Maringá”, disse o jornalista e historiador Laércio Souto Maior, um dos primeiros editores do O Diário do Norte do Paraná. Ele destaca que foi no O Jornal de Maringá, onde Verdelírio trabalhava, que ele tomou gosto pelo jornalismo ao editar a primeira coluna sindical da imprensa maringaense.
O jornalista Antonio Augusto de Assis, hoje aposentado, mas ainda publicando suas crônicas, contos e trovas, foi amigo de Verdelírio nos últimos 60 anos, trabalharam juntos em rádio e nos primeiros jornais da cidade, e se despediu do amigo da forma que se pode esperar de um poeta
Verdelírio, grande amigo,
colega, querido irmão,
vais levando ao céu contigo
todos nós no coração!
A. A. de Assis