Coleção de filmes de Marcelo Bulgarelli impressiona pela quantidade e diversidade (Foto: Arquivo Pessoal)
Globoplay, Netflix, Disney+, Telecine, HBO Max, Amazon Prime, Afroflix, Crunchroll, Looke, Oldflix… Certamente você já ouviu falar de algumas dessas marcas. Você provavelmente assina – ou conhece alguém que assine – um ou mais desses serviços de streaming. Cada uma dessas plataformas oferece a possibilidade de assistir a horas e mais horas de filmes e séries ininterruptamente. Tal prática, nos Estados Unidos, ganhou o nome de “binge watching”, o que por aqui popularmente chamamos de “maratonar” séries.
Diante da praticidade e da grande diversidade de títulos e temas encontrados nesses serviços é possível que você não se lembre com facilidade quando foi a última vez que comprou ou locou um DVD. O caso, no entanto, não se aplica a Marcelo Bulgarelli, jornalista, radialista, poeta, produtor, crítico de cinema e… Um colecionador de filmes em mídia física.
“Minha formação veio toda do teatro. Fiz um curso na adolescência e pensava até em ser ator. Fiquei sabendo de alguns filmes que eram gravados na minha cidade, em Petrópolis-RJ, e comecei a acompanhar, inclusive, queria fazer ‘ponta’ nesses filmes. Aos poucos comecei a me dedicar mais, ir ao cinema. Muitas vezes ia sozinho mesmo, pois nem sempre meus colegas gostavam daqueles filmes que eram exibidos”, diz Bulgarelli.
Para Marcelo Bulgarelli o investimento nas mídias físicas dos filmes vai muito além de uma questão aquisitiva: é um hábito cultural. Ele começou a colecionar ainda no tempo do videocassete. A parte financeira era um problema. “Comecei com um VHS usado, pois os novos eram muito caros na época. Fui fazendo uma coleção enorme de VHS, nem imaginava que teria tantos assim”, confessa. O filme número um foi “Intolerância”, um clássico de 1916. “Comprei de um amigo meu, que trabalhava em uma rádio”, recorda.
Filme favorito? Bulgarelli se diz incapaz de nomear um só. “Não coleciono raridades, compro filmes que eu gosto. Uma aquisição que me marcou muito foi o VHS de ‘Paris, Texas’”, diz. O jornalista lembra de ter alugado o VHS quando ainda estava começando a faculdade. “O drama dos personagens tem um final muito melancólico, não sei por que me identifiquei com tudo aquilo ali. A música também é maravilhosa, a fotografia e a direção. Um elenco extraordinário”, avalia.
A mídia física de “Paris, Texas” é uma das favoritas da coleção de Bulgarelli mais pela dificuldade na aquisição do título do que pela raridade em si. “Eu tinha o filme em VHS, mas a qualidade era muito ruim. Depois saiu um DVD, que não era grande coisa. Finalmente consegui um blu-ray, com tudo que tem direito”, conta, aos risos.
Hobby
Marcelo Bulgarelli considera o ato de colecionar um hobby. “Estamos no mundo só do streaming, só de Netflix. Nós, colecionadores, somos aqueles que ainda lutam pela mídia física. Ela tem charme, encanto de capa, materiais extras. Existem distribuidores que se dedicam bastante a isso. Não só te entregam o filme, mas também os itens relacionados, como pôsteres e cards”, diz o jornalista, que participa de vários clubes de colecionadores.
Na fatura do cartão dos Bulgarelli não há gastos com assinaturas de plataformas de streaming, mas nada contra a tecnologia em si. Ele simplesmente não consegue dar conta de assistir nem os filmes que já tem em casa. “A maioria dos títulos que tenho não estão nos serviços de streaming. São filmes antigos, de gênero, origens diferentes”, afirma. O colecionador tem mais de 2.300 filmes dos mais diversos gêneros: drama, comédia, terror, suspense, romance, musical, documentário, animação, aventura, ficção científica, policial… A lista dos mais queridos é grande, mas inclui grandes clássicos da sétima arte, como “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola; e “A Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock. Um título no rol dos favoritos do cinéfilo é uma animação japonesa do prestigiado estúdio Ghibli – “A Viagem de Chihiro”, de Hayao Miyazaki.
Bulgarelli fez parte de programas de rádio que debatiam cinema. Apesar de sempre escrever sobre a sétima arte e comentar filmes, ele não se considera um crítico. ““Faz falta na própria mídia, aqueles antigos que tanto eram admirados, pessoas que conseguiam mostrar várias camadas de um filme. Eu gosto de comentar e dar o meu ponto de vista, deixando para quem vai ver o filme ainda os pontos que devem ser observados”, avalia.
O apreciador de cinema está preocupado não somente com a condução fabular do filme, mas também com a gramática cinematográfica, com a maneira da liderança narrativa. É aquele que vê uma vocação artística e renovadora, que caminha espontaneamente pelos gêneros com curiosidade pela produção global e enxerga como arte, estuda os movimentos e alterações estéticas. Ser cinéfilo é prezar pelo cinema, não só pelos filmes.