Desde as primeiras horas da manhã deste domingo, 19, as cores da bandeira do arco-iris já são vistas na cidade com a chegada de caravanas vindas para a Parada LGBT de Maringá, que começa ao meio-dia em ponto no espaço ao lado do Estádio Willie Davids. Caravanas de mais de 20 cidades confirmaram presença, o que significa que com sol ou com chuva a parada vai acontecer. Aliás, a combinação de sol com chuva resulta em arco-iris.
Neste ano, a Associação Maringaense LGBT, promotora do evento, vai recolher junto aos participantes doações para auxiliar as vítimas dos problemas climáticos do Rio Grande do Sul. “Teremos um caminhão ao lado do palanque, que vai receber as doações, depois tudo será repassado ao Corpo de Bombeiros para a devida destinação”, diz Margot Jung, presidente da associação.
A situação do Rio Grande do Sul, atingido por enchentes, será tema para reflexão e debates durante o evento.
Desta vez, todas as atividades vão acontecer ao lado do estádio, não ocorrendo o tradicional desfile, que todos os anos começa na Praça da Prefeitura, passa pelas principais avenidas da área central e termina ao lado do Willie Davids. A concentração na Praça da Prefeitura não será possível devido às obras do Eixo Monumental.

Violência e mortes de LGBT
Também devem fazer parte dos debates da comunidade LGBTQIA+ a questão da violência contra gays e travestis e preconceito contra todos os demais membros da comunidade. O Brasil há anos segue como o país em que mais ocorrem assassinatos de gays e travestis pela simples orientação sexual.
Em 2023, morreram de forma violenta no país 230 pessoas LGBTI, mostra dossiê publicado nesta semana pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil. O número equivale a uma morte a cada 38 horas.
Dessas mortes, 184 foram assassinatos, 18 suicídios e 28 por outras causas, segundo o levantamento sobre a violência e a violação de direitos LGBTI+.
A sigla diz respeito a pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero.
Entre os mortos, 142, a maioria, é composta por pessoas transsexuais, em especial as mulheres trans e travestis. Foram mortos ainda 59 gays. Do total de vítimas, 80 eram pretas ou pardas, 70 brancas e uma, indígena.
O dossiê mostra ainda que, das vítimas, 120 tinham entre 20 e 39 anos de idade. Das mortes, a maioria foi por arma de fogo (70) e em período noturno (69). Dos suicídios, 11 foram de pessoas trans. O maior número de vítimas foi registrado em São Paulo (27), seguido por Ceará e Rio de Janeiro (24 mortes cada).
Ao considerar o número de vítimas por milhão de habitantes, o ranking da violência LGBTIfóbica é liderado por Mato Grosso do Sul, com 3,26 mortes por milhão; Ceará (2,73 mortes por milhão), Alagoas (2,56 mortes por milhão), Rondônia (2,53 mortes por milhão) e Amazonas (2,28 mortes por milhão). Foram contabilizadas mortes em todos os estados.
O observatório desenvolveu uma metodologia própria ao longo dos anos, com a coleta de informações também em veículos de comunicação e redes sociais, levando em consideração a provável subnotificação dos casos às autoridades e a ausência de dados oficiais com esse recorte específico.
“Como dependemos do reconhecimento da identidade de gênero e da orientação sexual das vítimas por parte dos veículos de comunicação que reportam as mortes, é possível que muitos casos de violências praticadas contra pessoas LGBTI+ sejam omitidos”, explica o observatório, em nota.
A organização aponta ainda que muitas cidades não têm veículos de comunicação locais que reportem casos ocorridos, por exemplo, no interior do Brasil.
A pesquisa de 2023 identificou diversos tipos de violência contra pessoas LGBT, como esfaqueamento, apedrejamento, asfixia, esquartejamento, negativas de fornecimento de serviços e tentativas de homicídio. As violências, destaca o dossiê, ocorreram em diferentes ambientes, como o doméstico, as vias públicas, cárcere, local de trabalho, entre outros.
As circunstâncias das mortes são verificadas por meio do cruzamento de informações com registros oficiais dos crimes junto às secretarias de Segurança Pública dos estados, por meio de mecanismos como a Lei de Acesso à Informação.
Ainda que não haja qualquer lei contra a homossexualidade no Brasil e que essa comunidade tenha conseguido avanços na Justiça, como a criminalização da homofobia pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2019, o Brasil continua a ser o país com mais mortes violentas de LGBTI+ no mundo, destaca o observatório.
A versão completa do Dossiê de LGBTIfobia Letal pode ser encontrada no portal do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil. (ABR).
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