Foi sepultada nesta quarta-feira, 5, no Cemitério Municipal de Santa Inês, a professora Daniele Oliveira Sussay, de 32 anos, diretora da Escola Municipal Paulo Freire de Sarandi e que se destacou na defesa dos direitos das pessoas trans, tendo sido protagonista na conquista do direito ao nome social na Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Ela era casada com o agente universitário José Cláudio Sussay desde 2022 depois de um ano de noivado. O casal estava na fila de adoção e prestes a receber duas crianças, um casal de irmãos, mas a morte prematura interrompeu o sonho de ser mãe.
Daniele morreu na noite de terça-feira no Hospital Metropolitano de Sarandi, onde estava internada devido a complicações intestinais, que se agravaram e resultaram em problemas cardiorrespiratórios.
Nas redes sociais, muitos amigos lamentaram a morte de Daniele e a destacaram como pessoa competente e sempre preocupada em fazer o bem. O promotor de vendas Alain Souza publicou uma foto junto com Dani e escreveu “Você deixa sua marca e seu exemplo. Mais que uma diretora, foi fonte de inspiração por ser quem você é, por existir, por resistir e por tantas vitórias”.]

A Paróquia Nossa Senhora das Graças, onde ela atuava na Pastoral da Criança e Integrava a Liturgia, também publicou nota de pesar, assim como a Secretaria de Educação de Sarandi.
Pioneira na luta por direitos trans
Daniele de Oliveira Sussay concluiu o curso de Pedagogia na UEM em 2016 e voltou à universidade para estudar Geografia. Ela estava no último ano e planejava entrar no Mestrado no ano que vem.
Segundo a professora voluntária do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE) Eliane Rose Maio, a conquista do direito ao nome social veio durante a primeira licenciatura da Daniele, em Pedagogia, quando ela e Naomi Neri se tornaram as duas primeiras mulheres transexuais a se graduarem pela UEM.
A professora recorda o primeiro encontro com Daniele. “Eu a conheci quando ela participou, pela primeira vez, de uma reunião do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Diversidade Sexual (Nudisex). Ao final do encontro, Daniele esperou todos saírem para conversar comigo e pedir permissão para ingressar no grupo. Ela foi acolhida e, junto com um coletivo de docentes e discentes, iniciamos a luta pela regulamentação do nome social na UEM.
Em 2010, Daniele foi a primeira a protocolar o pedido, e a questão foi oficialmente regulamentada pela Resolução 030/2013 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEP)“, relembra Eliane Maio.
Destaque no The Global Alliance for LGBT Educacional
Maio também recorda que a trajetória de Daniele foi tema de um vídeo que conquistou o primeiro lugar no Prêmio Educando para o Respeito à Diversidade Sexual, em 2013. O concurso nacional, idealizado pela The Global Alliance for LGBT Education (GALE), tem como objetivo reconhecer, valorizar e incentivar iniciativas que promovam o respeito à diversidade sexual no ambiente educacional no Brasil.

“Fomos receber o prêmio em Curitiba. Lembro da imensa emoção que Daniele sentiu. Não foi apenas pela premiação, mas também porque, naquele momento, ela vivenciava uma experiência inédita: era a primeira vez que se hospedava em um hotel”, conta Maio.
Homenagem da UEM
Segundo a professora da PPE, a UEM prestará uma homenagem a Daniele Sussay durante o IX Simpósio Internacional de Educação Sexual (Sies), que será realizado nos dias 9, 10 e 11 de abril de 2025. O evento é voltado a pessoas pesquisadoras da área da Educação, docentes de todos os níveis de ensino e discentes de graduação e pós-graduação que se dedicam aos Estudos de Gênero, Corpo e Sexualidade em seus diversos espectros e perspectivas teórico-ativistas.
O IX SIES contará com uma programação diversificada com mesas redondas, pessoas convidadas do Brasil e exterior, apresentações de trabalhos científicos, debates e atividades culturais.
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