Estamos no segundo ano consecutivo sem a celebração da Páscoa com a presença de fiéis. É muito nebuloso, inseguro, triste, nostálgico. Maria Madalena, João, Pedro foram ao túmulo de Jesus no primeiro dia da semana, e Ele não estava mais lá. Qual é a razão de ir ao túmulo? Há esperança? Nada! Somente lembranças, saudades, dor e ilusão.
Hoje faltam túmulos e muitas famílias choram luto prematuro. É o desespero tomando conta, é a incredulidade que massacra milhares de vidas por causa de uma política suicida que não anteviu a calamidade, que todo mundo alertava. É o descompasso da segurança alimentar, desobediência à Vigilância Sanitária e supervalorização de políticas desastrosas, orgulhosas, opressoras nos tempos modernos.
Mais uma vez uma Páscoa sem o calor da comunidade reunida na fé e esperança. O desespero se tornou a companhia mais frequente em milhares de famílias. Não tem comunidade com fiéis, não tem abraço, não tem visita. Estamos isolados, impedidos de olhar para a comunidade, a casa do Pão, da esperança, do encontro com o Senhor. O coronavírus ditou o ritmo, a ameaça, a morte.
Páscoa é superação da morte. Vivemos no desespero, diante da morte. Já perdemos milhões de pessoas nessa trajetória pandêmica. E quais os sinais de superação?
A Palavra de Deus neste domingo de Páscoa relata a corrida dos discípulos João e Pedro ao túmulo. É a corrida de hoje, na esperança de chegar a vez da vacina, do cuidado com a vida.
Eis a promessa do Senhor, “eternamente estarei no meio de vós”. No meio de tanta tristeza e confusão devemos buscar a orientação segura e acertada. São Paulo aponta-nos a fé e esperança. “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3,1).
Páscoa em tempos de sofrimento, se torna mais concreta. É a passagem do sofrimento para a felicidade. Acreditamos na ressurreição de Cristo. Nele encontramos a verdadeira vida. “Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados” (At 10,43).
O túmulo vazio é a certeza, Jesus ressuscitou, vive no meio de nós. Ele nos fortalece na luta contra o mal e nos ajuda a superar todo sofrimento do tempo presente. A nossa grande missão após páscoa será confortar os que sofrem com a perda de seus entes queridos com a pandemia, os que estão passando fome, os que estão deprimidos pelo luto não completado.
Ouçamos a bela e prazerosa saudação do Senhor que esvaziou o túmulo e encheu-nos de vida, esperança e amor.
Caminhante à Páscoa
Cônego Benedito Vieira Telles
Com as costas feridas, pesada cruz,
Caiu, nas ruas de Jerusalém.
À vista, triste Gólgota, além,
Com nossa cruz caminhante, és Jesus!
Com a cruz às costas vai, caminhante,
Vacila sob o madeiro da cruz.
Esfola-se, machuca-se, ó Jesus,
O calvário já perto, sem luz brilhante!
Junto ao túmulo está, em sentinela,
O anjo que acolhe a todos os visitantes.
Voltam felizes, dizem eles a instantes:
– Cristo é vivo entre nós! Ressuscitou!
Alegres caminhantes para a Páscoa,
Ligeiros, ao túmulo vazio, aberto,
Surpresa, em encontra-lo tão deserto…
Diz o anjo: – Aleluia! Ressuscitou!
A mesa pascal ser-nos-á posta,
E a todos os íntimos, convidados.
Juntos ao grande Mestre tão amado,
Senhor, nós agradecemos a Páscoa!
Feliz Páscoa do Senhor!
Dom Frei Severino Clasen, ofm
Arcebispo Metropolitano de Maringá- PR