Quaresma – pandemia, tempo de purificação

Dom Frei Severino Clasen - Arcebispo Metropolitano de Maringá

Estamos caminhando rumo à felicidade. A promessa de Jesus sobre o Reino de Deus passa pelo sofrimento, dor de cruz. Parados não chegarão a lugar algum. Acomodados, perecemos no pecado, na doença da Covid-19. O profeta Jeremias afirma: “Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel, depois desses dias, diz o Senhor: Imprimirei minha lei em suas entranhas e hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo” (Jr,31,33). Deus faz aliança com os vivos, não com os mortos. Faz pacto com gente de confiança, não com pessoas providas de desinteresse.

Quaresma, tempo depurificação, convoca-nos para a revisão de vida com Deus, relacionamento e proximidade com as pessoas e cuidado com a natureza.

Orar com coração sincero, humilde, exige conversão.  É preciso crescer na relação com Jesus Cristo, “mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5,8-9). O texto bíblico chama-nosàatitude de paz, entrega, de obediência a Deus.

No mundo consumista com tantas facilidades e tantaescassez de felicidade, fraternidade, Jesus alerta-nos: “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12,25).

A história da humanidade apresenta momentos trágicos com pandemias. Vivemos uma das mais trágicas da humanidade. Com muitos recursos científicos, medicina avançada, técnicas extraordinárias, material de ponta disponível, vivemos com milhões de doentes e mortes. Estamos isolados, amordaçados por um vírus invisível que ataca,destrói, angustia, sufoca, elimina.

A humanidade é chamada para revisão de hábitos de relações humanas, de contato com a natureza e redescobrir que a dimensão solidária fraterna é capaz de superar a pandemia. Não é possível, em tempos tão obscuros, vivermos políticas destrutivas, ideologizadas, negacionistas. O povo precisa de liderança que conduza para o bem. Que constróirelações humanitárias, de enfrentamento sólido na superação dos pecados, da pandemia que destrói a vida na alma, nocorpo. Esses males quebram a nossa aliança com Deus. É preciso voltar-se ao Senhor, obedecer à lei do mandamento do amor, reconstruir a vida, viver a fidelidade no Senhor.

A Campanha da Fraternidadechama-nos ao retorno do Senhor da vida. Fraternidade se constrói degrau a degrau. É um movimento ao encontro com Deus. Voltar-se a aliança com Deus exige diálogo, num compromisso de amor. Sem amor, não se superara o pecado,nem a pandemia. Exige-se disciplina, isolamento, usar os meios exigidos pela vigilância sanitária, obedecer aos profissionais da saúde e de outras autoridades legitimamente, constituídas. Quebra-se esta aliança fazendo aglomerações, desprezando a vida, ignorando o sofrimento depessoas que perderam seus entes queridos, os lutos não completados, contagiar-se e contagiar outras pessoas.

Eis o pecado a ser destruído na quaresma e a pandemia a ser superada para que cheguemos aPáscoa com vida nova. Sem pecado, sem ódio e rancor, com muita saúde, liberdade, retornar para a festa da vida. “Eu vim para que todos tenham vida em plenitude”.

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