Olá, meu nome é H.M. e sou um alcoólatra, quer dizer, sou um doente alcoólico, uma daquelas pessoas que, por algum motivo, não conseguem beber socialmente, não conseguem tomar um cervejinha com os amigos nos fins de expediente e depois ir embora para casa ou sair com a família para ir a uma festa, beber, conversar, socializar e ir para casa como todo mundo.
Mas, hoje não estou aqui para lamentar, para colocar a culpa de minhas tragédias no fato de ser o alcoolismo uma doença. Estou aqui para agradecer. Agradecer a homens e mulheres que também são alcoólicos, que também perderam o controle do modo de beber, perderam o domínio sobre suas vidas.
Depois de passar muita vergonha, perder tudo o que eu tinha, inclusive minha mulher e minhas filhas, que me deixaram por não suportarem minha vida de bêbado, perdi emprego atrás de emprego, fui internado em clínicas de recuperação algumas vezes, mas sempre voltava ao copo, parece que cada vez com mais vontade de me embriagar, agora para esquecer as tragédias, as perdas, a desesperança.
Quem me vê levando essa vida de pequeno empresário, pai de família, brincando e sorrindo com minhas filhas e meus netos, um homem respeitado na sociedade, com importantes atribuições no meu clube de serviço, na igreja e no meu grupo de amigos, talvez não consiga imaginar como foi minha vida anos atrás.
E é por isto que estou aqui agradecendo. Agradecendo por estes homens e mulheres que vêm aqui, como eu, para fortalecer um ao outro e assim conseguir passar mais um dia sem beber. Nosso propósito aqui não é não beber nunca mais, mas sim não beber pelas próximas 24 horas.
Já faz alguns anos que me reúno a esse grupo para compartilhar minhas forças e esperanças. Quando cheguei, eu era um trapo, um farrapo humano, um homem sem emprego, sem família, desesperado e sem esperanças. Aqui não me deram remédio, não me deram conselhos, apenas entendi que tratava-se de pessoas com problemas semelhantes aos meus.
Contei minha vida, chorei. Contaram suas vidas, choraram. Éramos iguais. Somos iguais.
Curiosamente, logo no primeiro dia que vim, não bebi, vim no dia seguinte e vi que tinha passado minhas primeiras 24 horas sem me embriagar.
Passei mais 24 horas, depois mais 24, outros como eu chegaram e eu já podia falar da minha vida a eles, que também foram ficando.
De 24 horas em 24 horas estou há mais de 30 anos sem beber. Sem beber, mas não sem levar uma vida chata. Não me embriagando mais, recuperei minha família e vejo no olhar de minhas filhas e de minha sofrida mulher um certo orgulho de me verem vencendo meu problema dia após dia. E me dão forças.
Com o tempo, recuperei velhas amizades, respeito na sociedade, comecei um negócio e estou prosperando, também dia após dia. Me sinto útil para minha família, meu clube de serviço, minha igreja, útil para minha cidade, para mim mesmo e, principalmente, para aqueles que vivem ou viveram o drama do alcoolismo.
Quem viveu o que já vivi aprende a valorizar a vida, as pesquenas coisas, os amigos.
É por isto que estou aqui. É para agradecer a todos, agredecer a existência dos Alcoólicos Anônimos, o A.A., esse grupo de pessoas que viveram problemas semelhantes aos meus, essas pessoas que estão buscando forças para mais 24 horas sem a bebida. Estou aqui para agradecer ao A.A. e desejar que mais e mais pessoas encontrem esse caminho e consigam passar 24 horas sem a bebida.
Nessa matéria de alcoolismo, não tenho conselho a dar. Apenas sugiro que quem acha que tem problema com seu modo de beber desenfreado faça como fiz: conheça um grupo de A.A., sem compromisso. Para mim funcionou. assim para milhões de pessoas em todo o mundo.
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