Opinião: Um desafio para a qualidade de vida com as cidades inteligentes e a tecnologia

cidades inteligentes

Imagem meramente ilustrativa Foto: Imagem da Internet

Tânia Tait

Recentemente, tive a oportunidade de assistir apresentações sobre o tema Cidades Inteligentes. Como professora da UEM na área de computação por mais de 30 anos, não pude deixar de relacionar o conteúdo apresentado por profissionais da área de arquitetura com o que é tratado na área de computação, desde o seu início, ou seja, que os recursos computacionais são utilizados para melhorar a vida das pessoas. Entretanto, o que se vê na computação é a tecnologia causando demissões e extinção de postos de trabalhos, sem se importar com o que ocorre com a sociedade e nem absorver os chamados desempregados estruturais.

Ao usar a tecnologia na arquitetura, por sua vez, percebe-se, além do uso nos processos e modelagens das construções, sua aplicação nas próprias construções com vistas a otimizar os espaços, garantir segurança e qualidade de vida. Todavia, na prática, o que se vê são construções segregadoras de uma parcela da sociedade ou inalcançáveis para a maioria da população. Em uma população com um grande déficit habitacional, apresentar soluções tecnológicas com foco nas pessoas, deveria, no mínimo, considerar os aspectos sócios-culturais, econômicos e ambientais.

É o que está manifesto na Carta Brasileira para Cidades Inteligentes (https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/desenvolvimento-urbano/carta-brasileira-para-cidades-inteligentes), no Brasil, “cidades inteligentes” são cidades comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação digital sustentáveis, em seus aspectos econômico, ambiental e sociocultural que atuam de forma planejada, inovadora, inclusiva e em rede, promovem o letramento digital, a governança e a gestão colaborativas e utilizam tecnologias para solucionar problemas concretos, criar oportunidades, oferecer serviços com eficiência, reduzir desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, garantindo o uso seguro e responsável de dados e das tecnologias da informação e comunicação.

Percebe-se, na definição acima, a qual consta no site do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional que o conceito abrange os aspectos econômico, ambiental e sociocultural com a aplicação da tecnologia para, também, reduzir as desigualdades. Além de questões abrangentes como estas, faz-se necessário aplicar essa intenção nos detalhes no cotidiano na vida das cidades, como a mobilidade urbana, o cuidado com as áreas verdes e fundos de vale, entre tantas outras que impactam na qualidade de vida. Para exemplificar, ao se falar em qualidade de vida e meio ambiente, não deveriam ser autorizadas as grandes construções ao redor de parques ou reservas ambientais, os quais se tornam sufocados pelos edifícios e deixam de ser os “pulmões das cidades”.

Surge, por fim, um imenso desafio, como aplicar todo o conhecimento científico e tecnológico para, realmente, garantir qualidade de vida, num sistema em que o lucro fala mais alto do que as questões ambientais, socioculturais e a redução das desigualdades?

 

Tânia Tait é professora da UEM (aposentada), Pós-doutora em História, Doutora em Engenharia de Produção e Sistemas e escritora de livros e artigos da área de informática e de artigos sobre direitos da mulher
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