A chuva abundante em janeiro, que a princípio foi bem-vinda, contribuindo para a recuperação do potencial produtivo da soja e demais culturas, agora começa a preocupar os produtores de toda região. Segundo Juceval Pereira de Sá, chefe do Núcleo Regional de Maringá da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), normalmente neste período já era para a região estar com 10% a 15% de sua área de soja colhida e com 3% a 5% do milho plantado. Até o momento, entretanto, são poucas as áreas colhidas e a janela para o plantio de milho tem ficado cada vez mais apertada.
No início da safra, em setembro, houve um atraso no plantio da soja, por falta de chuva, e já se trabalhava com a possibilidade de atrasos na colheita. Posteriormente, a estiagem em dezembro prejudicou o desenvolvimento das lavouras, sendo que algumas regiões chegaram a ter 50 dias sem chuva. Com a retomada desta em janeiro, as lavouras reagiram bem, apresentando uma boa recuperação em seu potencial produtivo. O excesso de chuvas, entretanto, com poucas horas de luz, que caracterizou todo mês, tem prejudicado as lavouras, destaca Juceval. Além do atraso na colheita, favoreceu a proliferação de doenças e pragas, também devido à dificuldade de entrar nas lavouras com os tratos culturais fitossanitários de controle.
Um dos problemas registrados foi o abortamento de vagens em algumas áreas, em diversos graus, sendo que algumas lavouras localizadas no município de Atalaia relatam perdas de vagem acima de 80%. Segundo pesquisadores da Embrapa, trata-se de um distúrbio fisiológico da planta ocasionado pelo excesso de umidade e a falta de luminosidade, na qual a planta aborta as vagens para sobreviver. Com isso, a soja volta a vegetar, emitindo novas folhas e ramos, podendo apresentar sintomas de “soja louca”, ou seja, a planta não completa seu ciclo no período normal. Estas áreas com abortamento, entretanto, não atingem toda área, os casos mais graves são minoria, e nas áreas conduzidas com bom manejo e boa fertilidade de solo, os sintomas são raros ou inexistentes.
De acordo com o chefe do Núcleo Regional de Maringá da Seab, ainda estão sendo realizados os levantamentos e análises técnicas para mensurar se haverá perdas de produtividade, mas diz que tudo depende das condições climáticas até o final da safra. A expectativa, porém, é de uma colheita dentro da normalidade.
O mês de janeiro terminou com 398 milímetros de chuva acumulada na média na região de Maringá, e até mesmo ficando acima disso em outras regiões. É um dos maiores volumes para o mês nos últimos anos. A média histórica para janeiro na região é de 180 a 200 milímetros, comenta Juceval. Dos 296 mil hectares cultivados com soja na região Norte e Noroeste do Estado, que compreende a regional de Maringá, 90% se encontram em fase de granação e 10% em florescimento.
Preocupa também o atraso no plantio de milho, que há muito tempo deixou de ser uma “safrinha” como os produtores se referiam à cultura de inverno, para tornar-se um “safrão”, crescendo muito em importância para a economia das propriedades rurais e de toda região. “A janela de plantio do milho já está bastante apertada e quanto mais tarde o planto, menor a produtividade e maior o risco de a cultura sofrer com as geadas e a redução no volume de chuvas que caracterizam o período de inverno. Daqui em diante, cada semana de atraso no plantio significa 5% de redução na produtividade das lavouras”, afirma Juceval. Também, com o prazo do zoneamento agrícola para plantio próximo do fim, os produtores podem ficar sem direito a seguro agrícola nas áreas plantadas posteriormente. A Seab tem negociado com o Ministério da Agricultura para que haja um prolongamento desse período.