Uma história de 25 anos e muitos quilômetros de barbante

A história de sucesso de João do Barbante começa limpando troncos de café e catando mamona com 5 anos de idade

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A empresa Barbantes Cianorte comemora em 2021 seu Jubileu de Prata com aumento nas vendas mesmo com a pandemia da covid-19. Para seu fundador, João de Deus Santana, o João do Barbante, são 25 anos levando o nome de Cianorte para vários Estados brasileiros com mais de 300 itens, uma variedade de cores e espessuras, tudo com a qualidade que faz da empresa a fabricante de um dos melhores barbantes do Brasil.

Fazendo valer o slogan “A nossa diferença é a qualidade”, a empresa que nasceu com uma pequena máquina para tecer barbante, hoje conta com o que existe de mais moderno no mundo para esse tipo de indústria. “Esta máquina aqui”, aponta o empresário João do Barbante, “tem apenas cinco exemplares no Brasil. Dois deles estão aqui na Barbantes Cianorte”.

Em plena pandemia de covid-19, a empresa continuou investindo em equipamentos e estrutura de transporte. “Temos uma capacidade instalada para a produção de até 80 toneladas por mês e, com a boa aceitação de nossos produtos no mercado, a produção está sempre sendo ampliada”, explica.

Pioneirismo na sustentabilidade

Por décadas, desde as geadas de 1975 que dizimaram a cafeicultura do Paraná, a economia e geração de renda em Cianorte foram baseadas na indústria da confecção, sendo a cidade um dos maiores pólos de moda do Brasil. Porém, os resíduos da indústria têxtil sempre foram um problema para o meio ambiente, obrigando as indústrias do setor a investir na queima dos restos da costura.

Este problema foi equacionado por João Santana logo no início de sua empresa, quando experimentou a transformação dos restos da confecção em matéria-prima para a fabricação de barbantes. Foram muitas experiências até achar o jeito certo de desmanchar os retalhos, criando uma pluma semelhante à do algodão, que é tecida em fios resistentes para a fabricação de barbantes fortes e macios.

A técnica usada por Santana hoje é posta em prática por indústrias de barbantes de todo o Brasil. “Essa reciclagem tem evitado nos últimos anos que milhões de toneladas de restos da confecção tenham destinação incorreta. Transformando esses restos em barbantes, evitamos danos ao meio ambiente e geramos renda. Este é um exemplo de sustentabilidade que começou em Cianorte e ganhou o Brasil”, explica o empresário.

Trabalho social

A indústria Barbantes Cianorte promove cursos de barbantaria em todo o Paraná e mesmo em outros Estados, chegando a até 500 pessoas em um curso, onde aprende-se a confeccionar tapetes, passadeiras, trilhos de mesa, jogos de banheiro, capas de liquidificadores e muitos outros produtos artesanais.

A empresa leva seus produtos também para diversas entidades e mesmo unidades prisionais. O proprietário, João do Barbante, baseia-se em estudos científicos que mostram que os trabalhos manuais têm grande influência no bem-estar emocional das pessoas, acalmando-as e melhorando o foco, a criatividade, a busca pela perfeição e o aprimoramento das habilidades manuais.

O empresário faz questão de deixar claro que os cones de barbantes doados em cadeias, entidades assistenciais e associações de artesãos são de primeira qualidade. “O produto que doamos a essas instituições é mesmo que vai para as lojas de materiais para artesanato”, diz.

 

 

Longe de casa, sapatos rasgados e um cobertor para começar a vida

João tinha 17 anos quando fez o caminho inverso de seu pai. Enquanto o pai, baiano, migrou para o Sul no final dos anos 1940 fugindo da seca e das dificuldades do Nordeste, aceitando derrubar matas para o surgimento de fazendas e cidades, João foi para São Paulo no maior êxodo rural da história do Brasil, após as geadas de 1975 dizimarem os cafezais que eram a base da economia do Estado, obrigando milhões de trabalhadores rurais a se adaptar à vida nas cidades, geralmente sem profissão definida.

“Saí de casa sem saber nada da vida na cidade grande”, conta hoje João Santana, lembrando que aquele momento foi uma ruptura em sua vida e que talvez ele jamais chegaria onde chegou se não tivesse que meter a cara no mundo à procura de trabalho, aprendendo a viver às duras penas.

“Eu tinha 17 anos e cheguei a Santo André, em São Paulo, com sapatos rasgados, poucas peças de roupas e uma coberta que minha mãe colocou na mala.

O garoto da roça fez de tudo na cidade grande, mas viu o esforço compensar quando deixou de ser empregado para ter seu próprio comércio. Foram anos de labuta, ganhou dinheiro e acabou voltando ao Paraná, desta vez fixando-se em Cianorte. Trabalhou muito, virou vendedor e acabou percorrendo boa parte do Brasil vendendo barbantes para uma empresa do Estado de São Paulo.

Já tinha 37 anos de idade quando decidiu entrar em mais uma aventura: mesmo sem dinheiro, comprou uma pequena máquina e começou ele, a mulher e os filhos a fabricar barbantes. Sua experiência em vendas facilitou a colocação do produto no mercado e assim João de Deus Santana passou a ser conhecido como João do Barbante.

A partir daí, o trabalho, o empenho e estratégias de mercado trouxeram a família até o estágio atual, onde o barbante antes feito só pela família ganhou conceito como um dos melhores do Brasil.

Mas, João não sossega e já ensaia uma nova aventura. Tem algo a ver com Conexão, a mais importante conexão. Mas isso é assunto para os próximos capítulos.

 

O trabalho como princípio, a qualidade como meta

Um dos orgulhos de João de Deus Santana, o João do Barbante, é sacar sua carteira de couro e pinçar lá de dentro uma antiga foto em preto e branco, já puída de tanto ser mostrada, em que aparece um menino pequeno com um fardo de jornais debaixo do braço. É o próprio João com menos de 10 anos fazendo entrega de exemplares do jornal Folha do Norte do Paraná, de Maringá, nas ruas de Munhoz de Melo na década de 1960.

Quando alguém se admira de ver um piazinho tão pequeno trabalhando, ele conta que com 5 anos já ajudava na catação de mamona, limpava troncos de pés de café, levava marmita na roça e ajudava a alimentar a criação.
Trabalho para João não é novidade. Ao longo de seus 63 anos foi de bóia-fria nos cafezais. Algodoais, canaviais de Munhoz de Melo, São Tomé e outras regiões a próspero empresário em Cianorte sempre com o mesmo empenho. Quem visitar a indústria Barbantes Cianorte, às margens da BR-323, em Cianorte, não pense que vai encontrar um típico industrial em uma sala suntuosa. A sala de João é tão simples quanto às demais do mesmo prédio, tem sempre um cacho de banana sobre algum armário, maduras e cheirosas, e possivelmente também esteja no ambiente uns dois ou três dos 11 cachorros, de raças e tamanhos diversos, que o empresário trata tão bem quanto trata seus amigos.

Diferente dos empresários sedentários que se aboletam atrás de suntuosas escrivaninhas, João do Barbante está o tempo todo circulando, vai de sala em sala perguntando ou instruindo, entra na oficina, carrega caixas, verifica a qualidade dos rolos de barbante que ficam prontos minuto a minuto exibindo cores vivas e variadas.

“A pessoa pode ter suas filosofias, professar essa ou aquela religião, ser deste ou daquele partido político, torcer para o time que quiser, mas o que vai defini-la é o trabalho. O trabalho dá dignidade e a qualidade do trabalho da também a honra, o respeito”, diz o irriquieto empresário, para quem trabalho não é novidade. O homem que já trabalhava aos 5 anos, nem pensa em parar aos 63. Ao contrário, busca nova Conexão. Mas, Conexão é assunto para os próximos capítulos da vida de João.

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