A artista visual Nina Miyamoto faz parte do projeto de residência artística da Academia Alfredo Andersen, espaço anexo ao Museu Casa. Ele fará o desenvolvimento e estudo de pinturas em madeira e aquarela japonesa.
Já em ocupação no ateliê do museu, até 31 de julho a residente apresenta criações relacionadas à filosofias de vida, o contato com a natureza, vivências e ancestralidade oriental.
Nina é natural de Maringá e viveu a infância transitando de endereço entre a cidade natal e o interior do Japão, em Kurokawa na província de Miyagi e Okazaki na província de Aichi. Em 2019, ingressou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná para estudar Artes Visuais, e desde então se dedica à estética nipônica em suas produções, construídas a partir de memórias e experiências afetivas.
Os valores ancestrais da relação de admiração, respeito e temor pelos elementos naturais, simbolizada em crenças e filosofias do budismo e xintoísmo, estão presentes nas obras de Nina. Tanto nas paisagens do interior japonês quanto na residência rural de seus avós no Brasil, a artista desenvolveu fascínio e nostalgia por retratar paisagens naturais.
Desde 2023, Nina usa a madeira como suporte principal para pintar, a partir de paineis de pinus. Essa escolha é mais uma manifestação de suas raízes. “A propriedade orgânica e metamórfica do material traduz a estética do wabi-sabi, conceito que valoriza a beleza da naturalidade e da imperfeição”, diz a artista, via AEN. Na residência, ela pretende utilizar espécies nativas brasileiras como jacarandá, sebastião de arruda e roxinho.
Seguindo os veios orgânicos das madeiras, os traços das paisagens às vezes flertam com o abstrato e a pareidolia (fenômeno psicológico de enxergar rostos em objetos inanimados), e se alinham novamente com um princípio de harmonia com a natureza. Também capturam o cotidiano japonês, como o festival Koinobori, celebração ao Dia dos Meninos, em que flâmulas coloridas em formato de carpas decoram o país inteiro.
Quem é Alfredo Andersen?
Na condição de imigrante, o artista norueguês Alfredo Andersen (1860-1935) explora em suas obras, a partir de uma bagagem artística adquirida na Europa, o vínculo que criou com o território brasileiro. Ele traz momentos de sua vivência e captura os simples gestos do cotidiano paranaense por meio da pintura, a qual transita por uma visualidade clássica, romântica, realista e pré-modernista. Dentre a variedade de suas representações, realiza um paralelo do trabalho com as paisagens naturais do artista.
Ao entrar em contato com o acervo do museu, a obra e a história do artista norueguês Alfredo Andersen, a artista encontra nas diversas paisagens do “pai da pintura paranaense” um paralelo de seu trabalho com as paisagens naturais do artista e a temática bagagem da imigração no território brasileiro.