Quadrinista brasileiro forma há dez anos universo próprio de HQs

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Kiko Garcia, durante a Bienal de Quadrinhos de Curitiba (Crédito: Cristiano Martinez)

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O medo mais profundo, o temor mais escondido e aqueles “causos” mais escabrosos constituem o Kikomics, um universo de histórias criado pelo quadrinista brasileiro Kiko Garcia, ao longo de dez anos, no mercado independente de HQs.

O produto mais conhecido é a revista “Catacumba”, com edições regulares e temáticas, abordando fobias, lendas urbanas, punk/rock, zumbis… enfim, um universo “podreira”, na definição do quadrinista. Além de trabalhos de maior fôlego, como o álbum “Terra Roxa”. Tudo sempre no traço altamente estilizado de Kiko, proporcionando ao leitor cenas visualmente impactantes nas páginas em preto e branco.

“Naturalmente tenho a mão pesada. Na hora que eu estou desenhando assim, a mesa até chacoalha um pouco. Então, é o jeito que eu sei”, diz Kiko, em entrevista à reportagem durante a Bienal de Quadrinhos de Curitiba, evento ocorrido de 7 a 10 de setembro no MuMa – Portão Cultural.

O artista conta que, ao longo do tempo, encontrou os materiais de que mais gostava para rabiscar. “Fiquei feliz trabalhando com pincel, com a caneta pincel”, citando referências de desenhistas como os brasileiros Flávio Colin e Júlio Shimamoto; e mais o mito Will Eisner.

“Eu acho que essas referências nunca se esgotam. A gente está sempre buscando evoluir, aprender. Às vezes, eu posso ver um grafitti na parede que vai me inspirar também”, diz Kiko.

Ao contrário da tendência atual, esse brasileiro produz 100% no papel, utilizando a tecnologia digital apenas para o tratamento final às páginas, com aplicação de cores, por exemplo. “Eu não consigo fugir disso. O digital às vezes auxilia. Um errinho que você vai corrigir e tal, claro; mas via de regra é tudo no papel mesmo, na raça”, admitindo que ainda é uma pessoa analógica, do papel.

Em relação ao processo de produção, Kiko explica que existe um cronograma de trabalho, um planejamento, em que já tem uma concepção artística. Mas as ideias podem nascer de maneira casual, na rua, e depois serem aproveitadas quando senta para desenhar.

Como trabalha de maneira independente, ele concebe do zero, indo dos rascunhos até a paginação, terminando na gráfica. “Só não imprimo porque não tenho um maquinário”.

Kiko Garcia (à dir.) participou pela segunda vez da Bienal de Quadrinhos de Curitiba (Crédito: Cristiano Martinez)

Catacumba
Com sua produção suspensa no momento, a revista “Catacumba” deve retornar no segundo semestre de 2024. Kiko conta que os leitores e leitoras têm cobrado a volta do material. Mas estudos no mestrado e outros compromissos profissionais têm obrigado a estabelecer um ritmo mais lento de escrita e desenho.

“Eu já estou ansioso para voltar a fazer ‘Catacumba’ e o pessoal tem cobrado”, anunciando, em primeira mão, que a próxima edição vai se chamar “Catacumba Estranha”, pois vai abordar estranhamentos e a psique do ser humano. Mas ainda não tem histórias escritas, apenas ideias.

“Mas quando chegar a hora, eu vou me dedicar e vou apresentar um trabalho divertido e de arrepiar”, destacando que não quer deixar passar muito tempo em relação ao número atual da revista. “Porque os eleitores estão sedentos por sangue, por catacumba”, brinca.

Traço de Kiko é conhecido pelo estilo estilizado (Crédito: Reprodução)

Terra Roxa
Lançado em 2022, “Terra Roxa” é o quarto álbum em quadrinhos de Kiko Garcia. Trata-se de uma história longa, em que o fanatismo cega as pessoas, a ponto de fazê-las entregar tudo aquilo que mais lhes deveria importar, em troca de uma vida regada pelo ódio.

Inclusive, o nome (que é uma expressão comum ao Norte do Paraná e interior de São Paulo) faz alusão à cor da terra, conhecida como rica em nutrientes para plantar cana de açúcar e café. O canavial aparece nesse gibi, rememorando a infância de seu autor. “É que eu uso de um jeito assim como analogias à escravidão”.

Uma das características dessa obra é a mistura de inglês e português na linguagem das personagens, espécie de “portuglês”. “Eu quis mesmo cutucar, criticar, sem medo nenhum. Isso é uma alegoria, uma coisa que eu usei para exemplificar como seria tantos séculos sobre domínio estrangeiro que a gente deixasse de ser um povo, deixasse de ser um país. Quer dizer, afeta até o jeito de se comportar e de falar”.

Nesse contexto da narrativa, a terra é uma personagem que conversa na língua portuguesa e o restante nesse idioma mesclado. Segundo o autor, uma das influências é “Laranja Mecânica”, livro de Anthony Burgess que traz uma visão assombrosa do futuro contada em seu próprio léxico inventivo chamado “nadsat”, que mescla gírias de gangues inglesas e palavras russas.

“Terra Roxa” é o quarto álbum de Kiko Garcia (Crédito: Cristiano Martinez)

Formatos
Diferentemente da série “Catacumba”, com HQs mais curtas e “tiro curto”, álbuns como “Terra Roxa” permitem a Kiko Garcia ter mais terreno para desenvolver personagens e o roteiro. Em resumo, cada formato tem um planejamento diferente.

Não por sinal, o quadrinista tem diversas ideias para novas graphic novels (“romances gráficos”, na tradução livre). “Meu caderninho tá cheio. O lance é só adequar tudo: o trabalho, estudo, outros trabalhos”, citando que também faz ilustração de cartazes, design de animação, ilustração editorial, quadrinhos infantis. Ele é artista autônomo há 24 anos, tendo publicado sua primeira história em quadrinhos em agosto de 1999.

Cards
Dentro do universo “Kikomics”, Kiko criou um card game para colecionar e jogar, com dez figuras do folclore brasileiro, do horror nacional, como lobisomem, o homem do saco, a loira do banheiro, a dama do baile.

“São figuras que às vezes são referenciadas nas histórias da ‘Catacumba’, ‘Terra Roxa’, ‘Assombracontos’. Então, são assombrações de domínio público brasileiro”, acrescentando que são referenciadas nas histórias criadas por ele no “Kikomics’.

Serviço
Para conhecer mais sobre o trabalho de Kiko Garcia, acesse seu site (http://www.kikomics.com.br), onde é possível comprar seu material; ou redes sociais (@kikomics).

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