Talento paranaense, Will Leite concorre novamente ao HQMIX, o ‘Oscar dos quadrinhos’

Will Leite e os livros da personagem, durante a Flim 2024 (Crédito: Cristiano Martinez)

Com seu jeitão sincero, de falar as coisas na lata mesmo, Dona Anésia é uma “doçura de velhinha”. O pessoal gosta tanto que ela foi indicada na categoria de Web Tira da 36ª edição do Troféu HQMIX, que é considerado o Oscar dos quadrinhos no Brasil.

Maior premiação da Nona Arte brasileira, diz o ilustrador, designer gráfico e quadrinista paranaense Will Leite, que é o criador da Anésia. A série dessa personagem é sucesso nas redes sociais, somando mais de 560 mil seguidores em seu perfil oficial do Instagram (@dona.anesia).

Will já foi indicado outras vezes ao HQMIX e já venceu esse prestigiado prêmio, cujo apresentador na cerimônia de entrega é o global Serginho Groisman. O resultado dos vencedores(as) será divulgado no início de dezembro, dias antes da cerimônia de entrega dos troféus, que será realizada no Teatro Raul Cortez, do Sesc 14 Bis, no dia 11 de dezembro, às 19h, em São Paulo.

“Eu sinto que, a cada ano, está mais difícil. Tanto é que a última edição que ganhei foi em 2020, 2021, não lembro exatamente. Mas é gostoso estar difícil, pois representa o crescimento dos quadrinhos no Brasil, a competividade”, avalia Will, que é natural de Porecatu, no Paraná. Morou 12 anos em Apucarana e também Londrina, no Norte, e hoje está residindo em Campo Mourão, no Centro-Oeste.

Inclusive, o Estado está representado no HQMIX por artistas como Lark, Bianca Pinheiro e os eventos Campo Geek, de Campo Mourão, e 7ª Bienal de Quadrinhos de Curitiba. “O Paraná em peso, representando bem os quadrinhos”, destaca Will, que publicou a primeira tirinha da Anésia em 2011.

A personagem é uma senhora de idade mal-humorada e franca, falando o que vem na telha. “Aquela vó que já não tem mais paciência e nem amarra social para ficar vestindo uma máscara e dizendo o que não é”, diz o criador, acrescentando que o dia a dia da velhinha é acompanhado da amiga Dolores, totalmente o oposto da Anésia, fazendo o contraponto. “É o equilíbrio das duas. Uma não consegue viver sem a outra”, explica Will, dizendo que, sem Dolores, a protagonista teria explodido de tédio e rancor.

Curiosamente, o início da série foi por acaso, conta o quadrinista. Ele nunca tinha imaginado criar uma tirinha estrelada por uma avó mal-humorada. “Eu fiz uma tirinha, que era para ser isolada e acabaria ali, como uma tira qualquer, como faço com tantas outras. Só que o pessoal gostou da tira e achou legal”. Assim, ele fez uma segunda, uma terceira… quando viu, tinha uma centena delas.

Desse modo, o personagem ganhava seu protagonismo, com nome inspirado na avó Anésia de Will. Diferentemente da tira, a vovó de carne e osso, hoje com 90 anos de idade, é um amor de pessoa, porém com suas tiradas. “É uma homenagem, mas com certo cuidado”, complementa o paranaense.

Willian Leite é designer gráfico, quadrinista e ilustrador (Crédito: Cristiano Martinez)

Adoração do público
Mesmo com sua amargura e acidez, Dona Anésia (das tirinhas) é adorada pelo público leitor e tem extrema popularidade, constituindo-se no carro-chefe do trabalho de Will Leite. A série ganhou até mesmo coletâneas em livros de papel, chaveiros, cadernos, adesivos etc.

Na percepção de seu criador, a identificação dos leitores é porque, como são personagens fictícias, expressam aquilo que as pessoas não têm coragem de falar no dia a dia. Segundo o artista, seu público, em grande parte formado por mulheres, se vê na Anésia hoje e já se projeta no futuro fazendo as mesmas coisas da personagem.

Processo de produção
Com processo de desenho feito no digital, Will diz que costuma ver tiras no dia a dia, ou seja, em conversas com as pessoas. Aí, ele anota a ideia e depois desenha. “Eu costumo levar uma hora e meia, mais ou menos, para desenhar uma tira. Às vezes, duas horas, depende do tamanho da tira”.

Depois de pronta, a tirinha é publicada nas redes sociais, caso do perfil da Anésia no Instagram; e também no blog “Will Tirando” (www.willtirando.com.br/), formando o acervo da personagem e de outros trabalhos do ilustrador.

São cinco tiras produzidas e publicadas nas redes sociais, incluindo material ainda inédito no Instagram; mas que já havia saído no blog.

Uma vez por ano, o autor reúne as tirinhas para um compilado no formato de livro impresso. Casos de “Anésia&Dolores” e “Anésia”, que compõem os sete volumes de toda a obra gráfica, chamada de “Will Tirando”.

O autor tem várias séries com outros personagens, citando o “Viva Intensamente”, estrelada por cães vivendo situações humanas, com suas angústias a partir do ponto de vista canino. É uma produção iniciada em 2010.

Will Leite autografa livro durante a Flim 2024 (Crédito: Cristiano Martinez)

Criador e criatura
A Dona Anésia não é a série mais antiga do portfólio do “Will Tirando”. Mas é aquela que tomou outra dimensão. “É a maior personagem do meu trabalho e acabou ganhando uma proporção até maior do que o resto. A criatura superou o criador”, analisa o artista paranaense.

Nesse sentido, o “medo” de Will é dessa avó do mundo da Nona Arte ganhar vida própria. “Já aconteceu, inclusive, de pessoas falarem ‘ah, eu não acho que a Anésia responderia isso nessa situação’. Mas, meu Deus do céu, é eu que estou fazendo, eu que criei, ela veio da minha cabeça. Ou seja, ela não é uma coisa minha mais. É uma coisa do leitor”, dizendo que a personagem passa a não ser dele. “Isso eu acho gratificante”.

Flim
Will conversou com a reportagem durante sua participação na 11ª Festa Literária Internacional de Maringá (Flim), que se encerrou neste domingo, 15 de setembro.

O próximo evento do artista será a Geek Festival em Santos (SP). E, fechando o ano, a CCXP em São Paulo.

Anésia e Dolores em tira do Will (Crédito: Reprodução)

Serviço
Para acompanhar a tirinha da Dona Anésia e o trabalho de Will Leite, acompanhe o perfil oficial no Instagram (@dona.anesia) e o blog (www.willtirando.com.br/).

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