Por Pedro Ernesto Macedo
Jornalista, apresentador do Show do Agro na RedeTV e conexões Agro ,colunista de diversos jornais do Brasil
Vivemos dias em que o Brasil se pergunta, ainda que em silêncio: qual é a nossa origem? Para onde estamos indo? O que realmente sustenta nossa identidade como povo? No meio do barulho digital, da volatilidade econômica e da fragilidade institucional, há um lugar — físico, simbólico e espiritual — onde o Brasil reencontra sua essência: a Expoingá.
Não se trata apenas de uma feira agropecuária. Reduzir a Expoingá à lógica fria das estatísticas e negócios seria como tentar descrever a alma de um povo por meio de sua contabilidade. A Expoingá é a encarnação do Brasil profundo — aquele Brasil que planta antes de falar, que cuida antes de cobrar, que acredita no tempo da terra mais do que nas urgências dos algoritmos.
Ao caminhar pelos pavilhões da Expoingá, o jornalista atento percebe algo que escapa aos olhos apressados: há uma pedagogia silenciosa sendo ensinada ali. Cada rebanho exposto, cada genética aperfeiçoada, cada startup rural apresentada nos estandes, não são apenas inovações ou negócios: são manifestações de um país que pensa e sente com o chão.
A feira é um ponto de convergência entre o que fomos e o que ainda podemos ser. É a epifania de um Brasil rural que não é atrasado, mas profundamente avançado em valores humanos, em respeito ao ciclo da vida, em cuidado com o que realmente importa: alimento, água, natureza, família, fé.
Na Expoingá, o que se vê é um país que insiste em crescer apesar de tudo. Produtores que enfrentaram seca, replantio, dívidas, pragas, e ainda assim estão ali — de cabeça erguida, expondo suas conquistas como troféus conquistados com suor, ciência e oração. O agro, nesse cenário, não aparece como mero setor produtivo. Ele se revela como o último território de verdade num mundo tomado pela performance e pela encenação.
Como jornalista, não posso deixar de destacar a inteligência que emana dos encontros técnicos, das rodas de conversa sobre crédito rural, das palestras sobre sustentabilidade e das demonstrações de tecnologia de ponta. O Brasil do agro, muitas vezes carimbado injustamente como simplório, mostra na Expoingá sua sofisticação silenciosa, sua engenharia aplicada, sua ciência territorializada.
Mas a feira também é emoção — e é preciso que isso seja dito. Ela é infância resgatada em cada criança que vê um cavalo de perto pela primeira vez. É encantamento genuíno nos olhos do povo que assiste aos rodeios ou canta junto nos grandes shows. É religiosidade camponesa nos gestos dos que agradecem por mais uma colheita, por mais um ciclo vencido.
A Expoingá, portanto, não é uma feira. É uma celebração existencial do Brasil que insiste em florescer, mesmo quando tudo parece empurrá-lo para a esterilidade.
E talvez seja essa a sua maior mensagem: em um tempo que nos afasta da terra, da origem e do silêncio, ela nos reconecta. Ela nos ensina, sem arrogância, que progresso não é ruptura, mas continuidade. Que tecnologia não é oposta à tradição, mas uma aliada dela. Que modernidade não precisa significar descaracterização, e que é possível — e necessário — sermos contemporâneos sem trairmos quem somos.
Ao final de cada edição da Expoingá, a sensação que fica é a de que vimos o Brasil em estado bruto e belo. Um Brasil que precisa ser ouvido, respeitado e celebrado. Um Brasil que não está no centro das decisões políticas, mas está no centro da realidade. E a realidade, como sabemos, sempre vence.
Que os formadores de opinião, os tomadores de decisão e os cidadãos comuns do Brasil urbano compreendam isso a tempo. Porque enquanto alguns discutem o país que querem, o agro — como se vê na Expoingá — continua construindo o país que é.

Jornalista, apresentador do Show do Agro na RedeTV e conexões Agro ,colunista de diversos jornais do Brasil