Por Jornalista Pedro Ernesto Macedo
“No meio do inverno, eu descobri que havia, dentro de mim, um verão invencível.”
— Albert Camus
No coração de um Brasil inquieto, onde as instituições balançam ao vento das polarizações e a opinião pública é sequestrada por algoritmos, existe uma fortaleza silenciosa que ainda sustenta o país: o agronegócio. Não apenas como motor econômico, mas como estrutura civilizatória — como um campo de força que ancora a liberdade real, a democracia concreta e a dignidade nacional.
É no campo, e não nos centros urbanos saturados, que encontramos o que resta da independência: o direito de produzir, de viver com o tempo da natureza, de possuir a terra que se cultiva, de não depender de discursos nem de subsídios, mas de suor e estratégia. O campo brasileiro, hoje, é mais do que um setor produtivo — é uma trincheira simbólica contra a uniformização do pensamento, contra a colonização digital da consciência, contra a perda do enraizamento.
O agro representa a liberdade na sua forma mais bruta e, por isso mesmo, mais verdadeira: o poder de alimentar, de sustentar, de resistir. E essa liberdade — que brota da terra, que germina no silêncio das madrugadas e floresce em cada safra — é o alicerce de qualquer democracia que se pretenda real.
Há uma dimensão geopolítica que poucos ousam admitir: um país que depende dos outros para comer, para plantar ou para gerar energia, não é soberano. E mais do que isso — não é livre. O Brasil, por vocação histórica e abundância natural, pode e deve ser um dos poucos países do mundo a manter sua autonomia pela força do agro. Mas para isso, é preciso enxergar o campo como mais do que um negócio. É preciso vê-lo como território estratégico, como identidade nacional, como projeto civilizacional.
A democracia não se sustenta em palavras ou normas jurídicas. Ela precisa de chão. De base produtiva. De cidadãos que tenham o que perder — e o que preservar. É por isso que o agro, com suas raízes no Brasil profundo, é hoje o principal pilar de estabilidade e continuidade num país cada vez mais tentado pela volatilidade. O agro não muda de ideia a cada ciclo eleitoral. Ele planta, espera, colhe — e reinveste. É ritmo, é ordem, é confiança de longo prazo.
Enquanto a urbanização excessiva nos conduz ao desenraizamento, à efemeridade, ao culto da imagem sobre o conteúdo, o campo nos lembra da permanência, da realidade, da verdade que não pode ser ocultada por narrativas. O solo não mente. A colheita não aceita desculpas.
O Brasil precisa, urgentemente, resgatar o valor simbólico do campo como espaço de resistência — não ao progresso, mas ao colapso. Porque o verdadeiro progresso é aquele que sustenta a vida. E a vida, no século XXI, dependerá cada vez mais da comida limpa, da energia segura, da água preservada, e da terra que continue livre para produzir.
Quando falamos que o agro é guardião da democracia, não é figura de linguagem. É constatação estratégica. O Brasil só será soberano se souber defender aqueles que ainda conseguem viver fora da dependência digital, alimentar e ideológica. O Brasil só será livre enquanto houver produtores com a coragem de semear sem garantias, de investir sem favores e de colher sob o risco do tempo — não do Estado.
Essa é a verdadeira elite que precisamos resgatar: a elite produtora, resiliente, silenciosa. Não aquela que busca aplausos, mas a que sustenta o país quando todos os outros pilares já falharam.
No fim, como disse Camus, é no inverno da história que descobrimos os verões invencíveis. E talvez o Brasil ainda tenha um — enterrado sob os pés de seus produtores, florescendo entre lavouras, silos e ideias que resistem em nome de um futuro que não se entrega.