Por Jornalista Pedro Ernesto Macedo
No coração da terra, onde o sol toca o solo e o homem finca seu destino entre ciclos de plantio e colheita, há algo que não se vê, mas que move silenciosamente as grandes engrenagens do agronegócio: a palavra. Em meio a tratores, fertilizantes, cálculos de produtividade e metas de mercado, esquecemo-nos, por vezes, que todo o ato de vender começa muito antes da negociação — começa na narrativa.
A literatura, essa antiga e muitas vezes subestimada companheira do pensamento, é a semente invisível que pode transformar radicalmente a maneira como se vende no agro. Porque vender, no fundo, é contar uma história. E quem não domina a arte da palavra, dificilmente domina a arte da conexão.
No campo, onde o concreto da produção se impõe, parece haver pouco espaço para abstrações. Mas é justamente na literatura — onde habitam metáforas, silêncios e símbolos — que o vendedor do agro pode encontrar sua mais poderosa ferramenta: o olhar sensível e estratégico. A literatura ensina a ver onde os olhos comuns apenas observam. Ensina a escutar onde há apenas barulho. Ensina a tocar o outro, não pela força do argumento técnico, mas pela força da empatia narrativa.
Um bom vendedor rural não é apenas um conhecedor de produtos, mas um contador de mundos. Ele não entrega apenas uma semente, um insumo ou uma máquina — ele entrega futuro. E futuro é algo que se vende com visão, mas se conquista com confiança. E a confiança se constrói como se constrói um bom livro: capítulo por capítulo, parágrafo por parágrafo, conversa por conversa.
Quem lê grandes obras — sejam elas bíblicas, filosóficas ou românticas — aprende mais do que vocabulário. Aprende pausa. Aprende escuta. Aprende a reconhecer o tempo certo de falar e o momento exato de calar. Aprende que convencer é diferente de impor, e que vender é, antes de tudo, traduzir o valor daquilo que oferecemos dentro da linguagem de quem escuta.
O agro brasileiro precisa, mais do que nunca, de bons leitores. Porque o leitor se torna melhor pensador. E o bom pensador, quando entra numa venda, entra com a bagagem de quem enxerga além da ficha técnica: ele vê o cenário, a cultura, a emoção, o momento, o contexto humano daquele que está diante dele.
Literatura e agro podem parecer distantes. Mas o que é um livro senão uma semente que germina na alma? E o que é o agro senão o cultivo contínuo da vida, dos sonhos e das possibilidades humanas?
Chegará o tempo — e ele já começou — em que os maiores líderes do agronegócio não serão apenas os que dominam planilhas, logística e inovação tecnológica. Serão também os que dominam a palavra com a mesma maestria com que dominam a terra. Porque a terra responde à técnica, mas o ser humano responde à linguagem.
Em um mundo rural cada vez mais globalizado, competitivo e veloz, a literatura nos convida ao contrário: à pausa, à interiorização, à construção lenta da autoridade pelo conteúdo, da confiança pela coerência, e da venda pelo vínculo humano.
Não se trata apenas de ler. Trata-se de viver a palavra. De tornar-se um profissional que, ao abrir a boca, revele não apenas argumentos — mas sabedoria.
E como nos ensina o poeta: “as palavras são aves que vêm de longe”. No agro, talvez elas venham mesmo de muito longe — mas quando chegam, são elas que transformam o campo em permanência e o produto em propósito.